domingo, julho 12, 2020

(DIM) As máscaras no cinema

Há duas dúzias de anos, quando a vida profissional me levava amiúde para o Extremo Oriente, ficava surpreendido com a quantidade de pessoas, que envergavam uma máscara. Já passara, é certo, por muitas visitas ao Médio Oriente e aí confrontar-me com mulheres veladas nas ruas, delas só se vislumbrando os olhos, mas a estranheza aí não era de monta tendo em conta os valores culturais vigentes. Em Taiwan ou na Coreia do Sul as razões não tinham esse fundamento, porque decorriam de outro não menos pertinente: a enorme poluição do ar, que levava muitas pessoas a salvaguardarem-se das películas finas porventura inaláveis pelos pulmões.
Nunca perspetivara ver-me numa sociedade em que me sentisse obrigado a replicar esse comportamento. E, no entanto, assim é. Depois dos primeiros dias em que ainda andei a imitar primeiros-ministros - António Costa e o holandês - cumprimentando pessoa conhecida e só depois, perante a sua reação, compreender o erro cometido, é agora impensável sair de casa sem a máscara ao pescoço, pronta a ser puxada para o rosto, ou limpando as mãos com gel em todas as lojas em que entro.
E, no entanto, a montagem de dezenas de excertos de filmes por Luc Lagier para a excelente rubrica, que é o Blow up da Arte, demonstra-nos que as máscaras sempre fizeram parte da narrativa cinematográfica, sendo infinitos os exemplos de filmes em que tiveram importância determinante no curso da intriga.
Feitas dos mais diversos materiais, ora elegantes, ora feíssimas, or glamourosas ora assustadoras (como esquecer a réplica da expressão do Grito de Munch nas várias sequelas de Gritos?), ora sendo portadora da morte, ora anunciando-a (em Amadeus de Milos Forman), a máscara serviu de disfarce para assaltos e jogos eróticos, andou por carnavais, como o de Veneza ou Nice, serviu de acessório a bailes galantes, mas revelou-se, sobretudo, premonitória em filmes que abordaram situações pandémicas (Contágio de Steven Soderbergh). Teve utilização farta em filmes de terror (Mário Bava), disfarçou facínoras do Ku Klux Klan, e a ficção científica também as usou e abusou. E não esqueçamos situações de comédia como as evocadas em filmes com Louis de Funés. Como estamos no verão, e As Férias do senhor Hulot é título sempre recordado em noites de canícula é esse o excerto mais grato da referida montagem, por nunca por demais celebrar a arte de Jacques Tati.

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