sábado, julho 18, 2020

(DIM) A Idade da Inocência


É curioso olhar para a filmografia de Martin Scorcese e constatar como entre dois títulos maiores - O Touro Enraivecido (1980) e Tudo Bons Rapazes (1990) - ele atravessou essa década ocupado com projetos menos ambiciosos e incaracterísticos - O Rei da Comédia (1983) e Nova Iorque Fora de Horas (1985) -  relativamente aos seus temas de eleição e não dewsdenhando a polémica com A Última Tentação de Cristo (1985).
Na década seguinte a mesma indefinição parece repetir-se porque, depois de um policial mal amado - O Cabo do Medo (1991)  -, aborda o universo melodramático de Edith Wharton nesta história de amor impossível na aristocracia nova-iorquina da década de 70 do século XIX, num ambiente caracterizado pelas intermináveis receções e os movimentados bailes.
Trata-se do triângulo amoroso, que coloca Newland (Daniel Day Lewis) no dilema de casar com a bem educada e bonita noiva (Winona Ryder), que o enfada com a sua banalidade, ou levar por diante a paixão pela condessa Olenska (Michelle Pfeiffer), uma mulher independente com controverso passado e junto de quem arriscaria a reputação pelo inevitável escândalo que  isso significaria.
Além de um genérico maravilhoso confiado ao nunca por demais elogiado Saul Bass, A Idade da Inocência credibiliza-se numa reconstituição perfecionista, fundamentada no esmerado guarda-roupa e na irrepreensível cenografia dos espaços onde os personagens se movimentam.
Num ambiente em que imposta sobretudo a etiqueta, o peso dessas convenções cria obstáculos inultrapassáveis às paixões, aos sentimentos.
Conduzidos pela voz-off de Joanne Woodward, que explica o que os próprios objetos tenderiam a demonstrar, Scorcese deleita-nos com sofisticados planos-sequências feitos de pequenas panorâmicas, onde se passa por exemplo de um quadro para um corpo, sugestionando-nos algo de operático na ilustração da incandescência interior dos personagens. 






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