Não saberei precisar quando isso sucedeu, calculo que foi um ou dois anos antes do 25 de abril: a retrospetiva da obra de Jerry Lewis no Caleidoscópio. Na época ainda não lia o «Positif» ou o «Cahiers du Cinéma» e não foi, pois, sob a influência dos elogios da crítica francesa, que me rendi aos filmes do último grande burlesco do cinema americano. Os títulos em que ainda fazia parelha com Dean Martin não me entusiasmaram por aí além, mas quando cheguei a Jerry, Enfermeiro sem Diploma, O Homem das Mulheres ou Jerry 8 3/4, inibi-me de qualquer reserva: ri a bandeiras despregadas e considerei pertinentes muitas das críticas mordazes neles contidas. Acabei a adolescência a considerar Lewis um dos grandes génios da comédia holywoodiana a par de Billy Wilder, que então me deleitava com Irma La Douce ou Avanti.
Poderia interpretar o constrangimento suscitado pela revisão de Onde Fica a Guerra? ao facto de já estar muito distante do adolescente, que fui há meio século. Poderia explicar o facto por já não fazer tanto sentido a crítica ao exército, que considerava pertinente nessa ápoca tendo em conta a firme decisão de não ir à guerra colonial. Mas não só! Se aguardo pela revisão dos filmes, que de Lewis mais adorei, para manter a admiração de então, este de 1970 é bastante discutível, dando razão aos críticos norte-americanos que o depreciaram sem compaixão em vez de alinhar com os colegas franceses. benévolos perante a decadência criativa do realizador.
A história é básica: em 1943, Brendan Byers III, descrito como o homem mais rico do mundo, chumba na inspeção para o exército e decide superar o despeito pela rejeição criando a sua própria força militar, contando com ela resolver o impasse do avanço aliado em Itália. Congrega para isso outros rejeitados pela mesma inspeção, mas com motivos de sobra para se porem a milhas de casa, seja por terem dívidas de jogo, sogras demasiado intrometidas ou várias grávidas a exigirem-lhe as responsabilidades conjugais.
Os gags não revelam grande imaginação, Lewis agita-se num gesticular e numa verbosidade excessiva e a verosimilhança da história nunca se perspetiva. Compare-se o Hitler de Chaplin com a réplica ridícula deste filme e compreende-se que o realizador teria ganho alguma coisa em descontinuar a produção uns anos antes. Porque o sorriso suscitado pelo filme acaba por ser amarelo. E nem é preciso ver o protagonista disfarçado de japonês nas cenas finais para o concluir.
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