E se afinal o capitão Francisco Orellana tivesse estado no El Dorado sem o saber, quando fez a viagem de exploração do Amazonas a partir dos Andes na direção da foz? O padre Gaspar de Carvajal, que fez o relato da aventura, bem enunciou as tribos numerosas com que contactaram, quer para delas receberem graciosamente os alimentos de que tanto necessitavam, quer para serem atacadas e roubadas, quando se mostravam resistentes a fazerem a vontade ao «conquistador». E nelas comprovou a existência de peças em cerâmica duma sofisticação, que não estava ao alcance dos artesãos europeus. Mas para quem estava à espera de pirâmides douradas e palácios majestosos, não eram os objetos artísticos que convenceriam da proximidade do objetivo! De qualquer forma esse testemunho foi tão pouco levado a sério que, quando os sobreviventes da expedição chegaram à corte espanhola em 1544, foi fechado a sete chaves durante trezentos anos, só sendo publicado em meados do século XIX para gáudio dos que não desistiam de alimentar o mito de uma civilização perdida nas profundezas amazónicas.
Perceval Fawcett terá, igualmente, encontrado os vestígios desse El Dorado, quando, acompanhado do filho, de um amigo deste e de uns quantos guias índios, avançou floresta adentro em 1925 para nunca mais dele se encontrar qualquer vestígio? A região dos índios Xingu em que se internou é, precisamente, onde arqueólogos brasileiros vêm descobrindo a «terra preta», um solo enriquecido pela mão humana e cuja composição ainda está por esclarecer. Foi ela a responsável pelas colheitas fartas e pomares pejados de frutos, outrora responsáveis por darem alimento ao milhão de ameríndios a viverem na região. Muitos mais do que os especialistas conjeturaram durante décadas, ao atribuírem à pobreza do solo escondido pela floresta tropical a impossibilidade de existirem civilizações importantes na região.
As escavações mais recentes comprovam a dimensão importante e o desenvolvimento efetivo de uma civilização aí existente antes da chegada dos europeus. Foram estes quem causaram sucessivos genocídios por conta dos vírus trazidos de além-mar e para os quais os ameríndios não estavam imunizados. A gripe, a varicela e outras doenças, fulminaram populações condenadas a regredirem depois de terem conhecido prosperidade e esplendor, que só as lendas locais conservariam nas memórias coletivas.
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