terça-feira, fevereiro 26, 2019

(DIM) «Antes de Manhã», Gonçalo Galvão Teles (2007)


A filmografia portuguesa escasseia em títulos ficcionais, que tenham a Revolução de Abril como tema principal ou mesmo de segundo plano. Acaso me incumbisse de um ciclo alusivo ao acontecimento lembrar-me-ia do «Capitães de Abril» de Maria de Medeiros, do «Amanhã» de Solveig Nordlung e deste «Antes da Manhã» de Gonçalo Galvão Teles. Outros só com aturada pesquisa que, provavelmente, redundaria na decisão de acrescentar documentários à programação em causa.
O filme do realizador de «Soldado Milhões» parte-se de um conto publicado por Mário de Carvalho em 1999 - «Apuros de um pessimista em fuga» - onde deparamos com  um fotógrafo obrigado a fugir , quando a Pide o foi buscar á casa onde vivia. Procurando junto de familiares ou amigos quem o albergue na noite seguinte, depara com a cobardia medrosa dos que julgaria disponíveis para o apoiarem em tal transe.
Em voz off Mário vai partilhando a visão negativa do país sem imaginar quão próxima está a sua libertação. Mesmo quando de madrugada é demorado por um sem número de viaturas militares pejadas de soldados, crê tratarem-se de mobilizados para embarcarem até aos teatros de guerra africanos.
O desapontamento é imenso, quando chega ao encontro marcado com quem o poderá garantir a fuga para o estrangeiro e depara com a Calçada da Ajuda desértica à hora em que, junto a uma cabina telefónica, deveria ver alguém. Afinal esse já era, segundo Sophia de Mello Breyner Andresen, o “dia inicial inteiro e limpo. Onde emergimos da noite e do silêncio. E livres habitamos a substância do tempo.”
Para Mário deixava de haver razões para continuar a fugir e, quiçá, para se manter tão pessimista.

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