Em 1921 D.H. Lawrence contava trinta e seis anos quando, acompanhado da esposa, Frieda, chegou à Sardenha depois de uma estadia na Sicília, em ambas as ilhas buscando um clima ameno, propício à recuperação dos danos pulmonares causados pela tuberculose. Dessa estadia resultaria o livro de viagens «Sea and Sardinia», onde já surgiam descritos muitos habitantes com quem contactara e lhe serviriam para construir os personagens de alguns dos romances posteriores, mormente o emblemático guarda de caça de «O Amante de Lady Chatterley».
Impressionou-o a virilidade ostensiva dos homens sardos, como já o haviam conseguido os espanhóis: em nenhum outro lugar do continente essa masculinidade era assumida com tal veemência. E os aveludados olhos negros das mulheres distinguiam-se dos das sicilianas, que não escondiam o seu carácter sombrio.
Após as primeiras impressões em Cagliari, o casal partiu de comboio para o interior da ilha, descobrindo uma paisagem quase inviolada, a lembrar-lhes a Cornualha. E, como preferiam viajar em 3ª classe viram-se rodeados de rústicos camponeses, que melhor lhes evidenciaram a cultura local. Tal propósito decidiu-os a instalarem-se durante uns dias no albergue de Mandas, a 60 quilómetros da capital, onde mais nada havia que fazer do que passeios pelos campos, ao encontro, aqui e além, dos pastores e seus rebanhos, até ao pôr-do-sol, obrigatória hora de ir para a cama.
«Sea and Sardinia» demonstra que Lawrence encontrou na ilha a força bruta da Natureza, que viria a estar presente nos romances que se seguiriam, até a morte lhe marcar encontro daí a nove anos.
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