Urânio e Neptuno são um mistério para os astrónomos, porque nem deveriam ter crescido tanto, nem deveriam estar localizados onde efetivamente se encontram para lá de Júpiter e de Saturno.
O mistério tem origem no que se passou há quatro mil milhões e meio de anos, quando o sistema solar se formou a partir de um disco de gases e de poeiras. Os núcleos rochosos dos planetas começaram a crescer a partir dos destroços de tal disco, mas atingindo dimensões limitadas. Para atingir as dimensões dos maiores planetas tinham de ser constituídos em grande parte por gases.
O calor do Sol projetou as moléculas leves dos gases para uma zona em que as baixas temperaturas conseguiam estabilizá-los, congelando-os, mormente o hélio e o hidrogénio.
Júpiter e Saturno foram os primeiros planetas a formarem-se dessa forma, alcançando a sua forma gigantesca, baseada em 90% de hélio e hidrogénio. Com Úrano e Neptuno a história foi diferente, porque só contêm 20% de tais gases. Tudo aponta para que tenham-se formado mais tarde, quando já não havia tantos gases para arrebanharem. Mas, como estavam a maior distância do Sol e, portanto, a temperaturas ainda mais baixas, puderam congelar outros gases mais pesados: metano, amónia. Até mesmo água. E são eles que se revelam maioritários na sua composição!
Devido a essa localização também a órbita de Neptuno e de Úrano em torno do Sol é muito lenta. Demasiado lenta para colidirem com massas de gelo, que as tivessem ajudado a formar a sua atual dimensão gigantesca. O que só aumentou a incompreensão dos astrónomos quanto à forma como se tinham revelado exequíveis.
Foi ao estudarem os exoplanetas pertencentes a outros sistemas estelares, que os astrónomos puderam concluir que são bastante comuns os que têm essas dimensões gigantescas, embora fiquem localizados a distâncias mais próximas das estrelas em torno das quais rodam. Ficava adensado o mistério: o que teria acontecido? Será que Úrano e Neptuno não se terão formado exatamente onde agora estão? É possível, porque já é consensual a ideia de uma dinâmica planetária, que os leva a não ficarem eternamente no local onde se formam.
O que teria, então, feito deslocar Neptuno? A resposta mais provável é a interação gravitacional com Júpiter. É, pois, credível que nos primórdios do Sistema Solar, os planetas gigantes estivessem muito mais próximos uns dos outros mas com a ordem atual a ser diferente, com Úrano e Neptuno em órbitas internas relativamente às de Júpiter e Saturno. Mas a interação destes dois terá obrigado os outros a catapultarem-se para maiores distâncias relativamente à estrela em torno da qual todos rodavam. E, nesse impulso, Neptuno colidiu com muitos dos pedaços remanescentes da formação dos planetas empurrando-os para ainda mais longe, para o que se ficou a chamar Cinturão de Kuiper.
Tinham passado quinhentos milhões de anos desde a formação do Sistema Solar e muitos desses fragmentos vieram bombardear os a Terra e os outros planetas rochosos, numa incessante chuva de rochas vindas dos céus. Com elas terá vindo a matéria orgânica, que daria ensejo à explosão de vida no nosso planeta. Por isso podemos considerar que devemos a nossa existência a essa projeção de Neptuno para distâncias maiores relativamente ao Sol. Mas talvez, conjuntamente com Úrano, tenha feito ainda mais: impedindo que, por efeito da influência gravitacional de Júpiter, a Terra e Vénus colidissem, destruindo-se mutuamente...
Ao puxar Júpiter para uma órbita mais distante do que era a sua, Úrano, Neptuno e, segundo os modelos matematicamente testados, um terceiro grande planeta, que se viu ejetado para além do Sistema Solar, puderam garantir a Vénus e à Terra novos posicionamentos em torno do Sol em que terão encontrado estável equilíbrio.
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