Tanto quanto me apercebi nunca nenhum romance de Avraham Yehoshua foi publicado em Portugal, embora se trate de um dos grandes nomes da literatura israelita e, nela, um dos últimos a ter nascido antes da criação do Estado de Israel.
Nascido em Jerusalém em 1936, aí viveu a infância e a juventude, antes de passar uns anos em Paris, instalando-se depois em Haifa. Militando durante muitos anos no campo dos defensores da solução de dois Estados distintos, um para israelitas e outro para árabes, ter-se-á zangado com Amos Oz, antes deste morrer recentemente, por alterar a sua perspetiva e defender a existência de um só, laico e republicano, com direitos iguais para uns e para outros. Razão dessa mudança: os sucessivos governos israelitas terem sabotado a solução anterior de forma tão drástica, que deixou de existir a possibilidade de dividir Jerusalém em duas metades, ou garantir um território contínuo e homogéneo para os palestinianos sem obrigar boa parte dos colonatos a desaparecerem.
Para o sucesso desse Estado multicultural, Yehoshua considera fundamental que, árabes e judeus deixem de se sentir tolhidos pelas respetivas memórias. É o apego a estas últimas, que inviabiliza a exequibilidade de soluções flexíveis, que substituam a animosidade entre os dois povos por um diálogo franco e profícuo.
No seu romance mais recente, que acaba de lançar em França - «Le Tunnel» - há um protagonista apostado em escavar um túnel de passagem para os animais por baixo de uma estrada movimentada, mas enfrentando a dificuldade de, para tal, ver-se obrigado a desalojar uma família. Através de uma estória muito simples, metaforiza-se eficientemente a realidade presente naquela região do Médio Oriente.
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