Há certos filmes que, mesmo não ganhando o estatuto de clássicos, justificação bastante para a sua apetecível revisão ao longo dos anos, nos continuam a suscitar agrado quando os acasos no-los trazem de volta por permitirem concluir que não envelheceram mal.
Vem isto a propósito de «Never Cry Wolf», de Carroll Ballard, que vi por alturas do nascimento da minha filha, em 1983, e muito então me agradara. Agora revisitado confirmou esse pretérito juízo.
De início temos um biólogo chamado Tyler a contas com a intimidação da paisagem: desejara tão ardentemente conhecer o norte do Canadá, que recebera com alegria a missão de descobrir a razão da excessiva mortalidade dos caribus. Abandonado no meio de nenhures com as parcas bagagens, estremece-o a perplexidade de aferir como poderá resistir a temperaturas tão inóspitas, a ventos bravios e, sobretudo, à solidão a que fica condenado.
À partida não questiona a tese, que lhe pediram para corroborar: os animais em migração estariam a ser dizimados pelas numerosas alcateias de lobos na região. Mas dois esquimós, o velho Ootek e o jovem Mike, vêm juntar-se-lhe no acampamento, ensinando-lhe os rudimentos da arte de viver a tão altas latitudes. O ancião estimula-lhe as convicções quanto ao que pretenderá comprovar.
Quando a migração começa, Tyler percebe a razão efetiva da redução dos animais envolvidos nessa impressionante movimentação: há uma doença que os está a vitimar, facilitando a caçada dos lobos, apenas interessados nos espécimes mais fragilizados. Inserindo-se no meio da manada de caribus, e imitando o comportamento dos seus predadores, Tyler empatiza com um casal, George e Angeline, que descobre terem uma ninhada de filhotes. Mas, quando está prestes a concluir a missão, e ser devolvido à civilização, compreende que o casal de lobos foi assassinado para que as suas peles fossem vendidas aos turistas, crescentes invasores daquelas paisagens selvagens.
A Tyler resta a infeliz conclusão de ter contribuído para a atroz chacina, porque constituíra-se como foco de atenção de Mike, que vira no seu ato criminoso a forma expedita de arranjar dinheiro bastante para arranjar os dentes e vencer o estigma de pôr a léguas as raparigas a cuja corte pretendia candidatar-se.
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