Será que transportamos nos genes os efeitos dos traumas padecidos pelos nossos pais, quiçá mesmo, pelos nossos avós? Por exemplo, terei nas células do cérebro, o medo e as dores do meu avô materno, que andou nas trincheiras da Flandres durante a I Guerra Mundial? E confirmar-se-á que, sendo o meu ADN uma mistura dos Trindades e dos Rochas, mantenho as características físicas dos primeiros, e as psicológicas dos segundos, com que só me poderei congratular porque os primeiros tinham decididamente um péssimo carácter?
A professora Isabelle Mansuy, da Universidade de Zurique, corrobora as respostas positivas a tais questões numa excelente conferência, acessível nas redes sociais. Nas muitas experiências a que esteve associada, na qualidade de neurogeneticista, pode comprovar que, por exemplo, muitos holandeses ainda comportam nos genes os efeitos da grande fome por que passaram os seus avós e bisavós durante a Grande Fome do Inverno de 1944 ou que, embora os progenitores tivessem contribuído substancialmente para a composição dos nossos cromossomas, podemos perfeitamente ser herdeiros dos atributos físicos de um e dos da personalidade do outro.
Há, no entanto, algo que não podemos esquecer: não é só a herança genética a condicionar quem somos. Um enorme conjunto de fatores concorrerão, desde o nosso nascimento até à morte, para que o nosso epigenoma se vá alterando. Quer de forma positiva (alimentação saudável, satisfação profissional, estilo de vida tranquilo), quer negativa (drogas, álcool, tabaco, stress, experiências dolorosas, etc.). Constatou-se laboratorialmente que, em função desses fatores conjunturais, o esperma masculino vai vendo alteradas as suas características.
O exemplo mais elucidativo em como começamos por ser o que os genes nos legam, mas vamo-nos construindo em função do que vivenciamos, está no caso dos gémeos monozigóticos, ou seja originalmente provenientes do mesmo núcleo que, em adultos, se revelam tão dissemelhantes que um se apresenta elegante e saudável, e o outro doentiamente obeso, tendo para isso concorrido a diferente forma de se alimentar de um ou de outro.
Em suma, se todos somos determinados pelos nossos genes, deles recebendo a predisposição para determinadas características físicas ou psicológicas, muito do que nos tornamos depende do nosso comportamento perante todos os condicionalismos que no-lo limitem.
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