sexta-feira, fevereiro 22, 2019

(DIM) Quando o Cinema podia ser irreverente


Que prazer o de rever extratos de filmes de Charlie Chaplin e de Buster Keaton a pretexto da abordagem das específicas características, que  os distinguiam. O documentário de Simon Backès revela como um era socialmente mais interventivo - e por isso viria a ter dissabores durante o período da caça às bruxas em Hollywood! -, e o outro dedicava-se a pôr-se no centro do ecrã, enquanto tudo à volta rodopiava, ou, pelo menos, se desestabilizava.
A tentativa de criação de uma rivalidade entre ambos foi tão esdrúxula, que a amizade sobrepôs-se a essas intrigas, algumas das quais intentadas pelos críticos dos Cahiers du Cinema. Em «Luzes da Ribalta», quando Chaplin quis homenagear os cómicos do passado, que a modernidade tornara dispensáveis, haveria de recorrer ao amigo com quem contracenaria numa das partes mais memoráveis do filme.
Passados tantos anos é curioso como os filmes dos dois atores e realizadores continuam a suscitar reações de agrado nas crianças, que os veem. Nesse sentido aguardo pela oportunidade de os dar a conhecer às minhas netas. Porque, como se demonstra no documentário de Backès, a irreverência manifestada em tantos filmes das três primeiras décadas da História do Cinema, passaria a ser travada pelos tycoons de Hollywood, quando conseguiram transformar a arte das imagens em movimento num negócio destinado a encher-lhes lautamente os bolsos. Ideologicamente os títulos saídos da «fábrica de sonhos» passaram a ser orientados prioritariamente no sentido pretendido por quem os produzia.

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