A família da realizadora Martina Melilli viveu durante décadas em Tripoli, na Líbia, quando esta era uma colónia da Itália fascista. Nascida em Pádua em 1987 ela sempre teve um enorme fascínio pelo passado familiar, procurando que os avós, ainda vivos, lhe revelassem tudo quanto recordavam desse passado. Daí as tentativas para atravessar o Mediterrâneo e ir ao encontro dos bairros tão referenciados nessas conversas. Em vão, porque, com a guerra civil entre as várias milícias, não havia forma de conseguir um visto.
Porque as redes sociais podem servir de alternativa, ela entra em contacto com Mahmoud, que vive na cidade em causa e lhe promete ir contando tudo quanto ela pretenda saber, acrescentando-lhe imagens fotográficas e em vídeo, que melhor transmitam tais informações. Mas trata-se de uma comunicação problemática, sobretudo, porque os cortes de eletricidade são tão frequentes que o jovem líbio nem sempre comparece no ecrã de computador, quando combinado. E depressa a realidade atual de Tripoli se sobrepõe a esse resgatar do passado com imagens de mortos abandonados nas ruas depois de combates entre as várias fações ou os que as marés do Mediterrâneo devolvem às praias depois de se afogarem nas frustradas tentativas clandestinas de viagem para a Europa.
As diferenças culturais também se detetam com Mahmoud a mostrar interesse óbvio em conseguir uma namorada italiana, mormente quando se insurge por ela ter saído à noite com amigos, só chegando a casa depois da meia-noite. Mas Martina tanto pretende cumprir o projeto de manter o contacto virtual com a cidade dos avós, que se faz desentendida.
Documentário interessante, ainda que demasiado centrado nas comunicações escritas entre os dois amigos, «Minha Pátria, a Líbia» dá uma perspetiva trágica sobre esse rico país do norte de África, que Sarkozy tanto se esforçou por desestabilizar, que conseguiu reduzi-lo ao caos atual.
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