Ils sont fous ces hollandais! A fórmula, adaptada dos livros do Astérix, faz todo o sentido no dia de Ano Novo depois da orgia pirotécnica da última noite. Ainda o sol declinava por trás das nuvens e já os céus de Haia e Roterdão começavam a iluminar-se com fogos-de-artifício de todas as cores e feitios, acompanhados dos respetivos estrondos. Por tudo quanto era praça ou jardim lá estavam os entusiastas do foguetório a lançarem os engenhos, prolongando o divertimento até às quatro da madrugada.
Não havendo iniciativas públicas, que organizassem um daqueles eventos bombásticos transmitidos pelas televisões ao longo do dia do ano, à medida que a mudança de número no calendário acontecia nas sucessivas latitudes, eram os habitantes quem os replicavam. Estando-se em cidade com gente de todos os continentes, quando soavam as horas certas, aceleravam-se os festejos, promovidos por quem tomava por referência a terra de origem. Embora não deixassem de virem depois a contribuir com a sua parte, quando esta terra de acolhimento chegava, por seu turno, à convenção esperada.
Os pássaros andavam num alvoroço, assustados por aquela agressão ruidosa, cujo sentido por certo lhes escapava. E do vigésimo segundo andar, donde a tudo assistíamos, vimos o grande clarão do descontrolado incêndio numa estrutura de madeira montada na praia de Scheveningen e que, quando o fogo se lhe atiçou, pôs todos os farristas em debandada, ameaçados pelos dois tornados de cinzas logo formados.
Que não é situação inédita, dizem-nos os que aqui vivem: não é por acaso que esta é noite de prevenção reforçada para todos os bombeiros, sujeitos a serem chamados a qualquer momento para acorrerem aos muitos sinistros provocados pelos festejos. E dá para ficar a pensar no custo de tanta pólvora, produzida e comercializada para se ver reduzida a nada nos céus progressivamente enevoados com a neblina dos muitos fumos dissipados.
Essa noção de desperdício só corrobora essa sensação de estranheza que suscita este povo e no-lo faz considerar algo alienígena.
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