Há sessenta anos estreava-se «Deus Sabe quanto Amei», aquele que viria a ser para muitos a melhor obra cinematográfica de todos os tempos, embora tal juízo se revele exagerado quando o revemos nas circunstâncias atuais. Tem, porém, um excelente desempenho de Frank Sinatra no papel de um homem torturado e irreverente, que volta à cidade natal donde fora rejeitado dezasseis anos antes, vendo o irmão, promovido à condição de eminência local, a exigir-lhe uma respeitabilidade, que ele enjeita como obrigação. Até por ter sido quem o mandara para um internato, desejoso dele se livrar.
Há, igualmente, outra grande interpretação, a de Shirley MacLaine enquanto Ginnie, uma prostituta, igualmente bem conhecedora do que significava ser pelos outros humilhada. Muitos anos depois a atriz continuava a agradecer a Sinatra a pressão sobre Minnelli para que mudasse o final do filme, de forma a tornar-lhe o papel ainda mais impressionante. E foi-o de tal forma, que o percurso cinematográfico logo se lhe acelerou, com trabalhos memoráveis como o que, logo de seguida, cumpriria com o mestre Billy Wilder em «O Apartamento».
No mais a narrativa é a expectável de um escritor como o era James Jones, autor do romance, que aqui se veria adaptado: um veterano regressado da guerra e com dificuldades de reintegração, uma cidade cheia de virtudes públicas e vícios privados, além de secundários - e aqui incluo Dean Martin apesar de figurar no genérico como cabeça-de-cartaz! - capazes de explicitarem a ambivalência das suas personalidades. Quando Godard decidiu pôr Michel Piccoli a tomar banho com um chapéu na cabeça era neste último, que pensava, já que Bama Dillert é jogador, que o não dispensa em nenhuma ocasião. Nem sequer mesmo para dormir.
Acrescente-se que este é o tipo de filme, que evoca nostalgicamente aquele passado pré-televisão em que as famílias iam ao cinema ao fim-de-semana e cada título constituía motivo de conversa para a semana seguinte, porque acontecimentos maiores não existiam no diminuto quotidiano em que viviam.
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