Não têm sido brilhantes as experiências cinéfilas dos dias mais recentes. As mudanças de geografia não possibilitam grandes concentrações justificando-se as distrações ligeiras, que não prejudicam a prioritária acomodação mental das recentes vivências. (Há lá coisa mais importante do que a perceção de como os genes transmitidos se exprimem nas gerações que nos sucedem?).
«O Estranho que amamos», filme de 2017 realizado por Sofia Coppola, é a remake de um outro com Clint Eastwood, assinado por Don Siegel em 1971, e dá a ver um soldado ianque (Farrell) a ser recolhido num colégio feminino da Virgínia, onde só restam a proprietária (Kidman), uma professora (Dunst) e cinco alunas adolescentes. Recuperado das feridas contraídas numa batalha ocorrida nas redondezas, ele vê-se desejado pelas mulheres e raparigas, parecendo comandar o rumo dos acontecimentos de forma a todas manipular. Trata-se de erro básico de quem não adivinha a capacidade feminina para superar as armadilhas a elas dirigidas pelo poder de sedução do género oposto. Quando, por duas vezes, o hóspede se dá conta do logro em que caíra, já é demasiado tarde porque, da primeira perde uma das pernas (substituto óbvio da castração) e da segunda acaba assassinado.
Interessante do ponto de vista visual e interpretativo, o filme confirma o talento da realizadora, mas sem suscitar vibrante entusiasmo.
«Missão Impossível III» tem a assinatura de J.J. Abrams, o que constituía garantia de irrepreensível feitura à custa de exuberantes efeitos especiais. A estória é a do costume: existem os bons e os maus (mesmo que uns parecessem amigáveis em quase todo o filme e fossem afinal ruins e com outros sucedesse o inverso), muitas cidades por onde os personagens evoluem, a referência ao fator ganancioso dos capitalistas ianques e muita inverosimilhança na exequibilidade dos feitos impossíveis, que o protagonista empreende. É réplica vistosa do 007, mas nada oferece de substantivo, quando se conclui a sua digestão. Mesmo tendo Philip Seymour Hoffman como grandessíssimo vilão.
«A Caverna» é uma curta de Edgar Pêra com data de 2015 e põe um conjunto de espectadores horas a fio num cinema como se a sala fosse o espaço concebido por Platão sem acesso à luz exterior. Há a fixação no que vai passando no ecrã, mas também conflitos, que se vão regularizando sem grandes explicações quanto às razões de se terem iniciado ou aos compromissos do seu desfecho. Há muito que os filmes de Pêra deixaram de fazer sentido num contexto exclusivamente cinematográfico, porque antes se enquadram na videoarte, que vai ganhando espaço nos museus de arte contemporânea.
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