Dias atrás uma nave chinesa aterrou na face escondida da Lua para dela enviar dados científicos destinados a informar-nos sobre a sua geologia peculiar. Confirmou-se, se ainda o era necessário, o posicionamento da grande nação asiática como a que tenderá a explicitar na aventura espacial a futura condição de primeira superpotência, desalojando os norte-americanos de tal condição. Ao mesmo tempo parece abrir-se forte concorrência entre outras agências espaciais estatais e as de investidores privados com sucessivos anúncios de futuras viagens para o mesmo destino e, quiçá mesmo, para Marte.
Já quase passou meio século desde que o último astronauta despediu-se do Mar da Serenidade, entrou no módulo lunar e voltou à segurança da nave Apolo para regressar à Terra. Desde então todas as Administrações norte-americanas desinteressaram-se de um investimento, que lhes traria despesas exageradas (recordemos que, para chegar à Lua em 1969, a NASA viu-se contemplada anualmente com 3% dos sucessivos orçamentos!), sem retornos dignos de serem contabilizados. Por seu lado os russos, que tinham ganho todas as primeiras escaramuças além-estratosfera, deixaram de contar para esse campeonato assim que se viram sem o enorme poder soviético.
Recentemente Trump quis replicar Kennedy, mas o anúncio publicitário pareceu ser o da venda de gato por lebre. Mais credíveis os russos, os japoneses, os indianos, e, sobretudo, os chineses - que prometem ter taikonautas a colonizarem a Lua em 2036 - voltaram a meter o nosso satélite na ordem do dia. E Elon Musk, Richard Branson ou Jeff Bozos mostraram intenções de expandirem os negócios muito para além dos limites terrestres. Uns e outros não disfarçam a jogada de marketing, anunciando foguetões e foguetórios, para serem vistos como poderosos e visionários. A verdade é que, andando já nos sessentas, não tenho esperança de voltar a reviver o entusiasmo com que, há cinquenta anos, acompanhei as vicissitudes da Apollo 11. Talvez as minhas netas tenham tal privilégio.
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