A Literatura mundial é rica em romances denunciadores do sofrimento de crianças e adolescentes em pensionatos, aonde se veem coercivamente internados sem que haja quem lhes venha em socorro. Em quase todos surgem padres e outros «educadores», que revelam um pendor sádico na forma como contra elas exercem repelente violência, surgindo, em contraponto, a solidariedade entre as suas vítimas.
Nesse sentido o romance da canadiana de expressão francesa Nathalie Bernard nada traz de novo, mas o caso muda de figura ao sermos confrontados com a informação dela ter-se inspirado nos pensionatos criados para albergarem crianças ameríndias, da tribo dos algonquinos, a quem se pretendiam impor comportamentos, crenças e costumes da sociedade branca.
Na história de dois miúdos, que fogem da instituição depois de comprovarem a morte de Lucy, a sorridente amiga, que lhes iluminava dos dias, e recorrendo aos saberes herdados dos genes para escaparem à perseguição dos captores, está uma impressiva evocação dos crimes cometidos pelos que se arrogavam da capacidade civilizadora dos selvagens, e mais não eram do que os seus algozes.
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