A migração anual dos caribus, nas regiões fronteiriças entre o Alaska e o Canadá, é dos acontecimentos mais impressionantes do mundo animal. Desde há doze mil anos, que centenas de milhares de animais movimentam-se na Primavera desde os locais onde passam o outono e o inverno para parirem as crias junto às planícies próximas do litoral. Hoje são quase quinhentos quilómetros os que devem vencer, através de montanhas e vales cobertos de neve, arriscando a travessia de rios caudalosos, e resistindo aos predadores - lobos e ursos - que os tomam como alimento providencial para sustentarem as próprias ninhadas! - até chegarem a tempo de verem florir a erva-algodão, particularmente rica durante breves dez dias, e que, digerida abundantemente, lhes fortalecerá o leite.
Há trinta anos este fenómeno natural deu origem a um filme muito interessante - «Never Cry Wolf» - que o apresentava na perspetiva dos lobos. Tomando-a do lado da manada é interessante nela constatar o papel das fêmeas mais velhas na condução de todos os demais elementos que a integram ou a inevitabilidade de serem deixadas para trás as crias de apenas um ano, demasiado fracas para acompanharem o ritmo das suas esfomeadas e pesadas progenitoras.
Por muito que os documentários da vida animal nos poupem o lado mais trágico do que nela acontece - tornou-se um estereotipo a cena de uma cria perdida ou quase a afogar-se que, após momentos de criação de suspense junto do espectador, se consegue salvar! - têm o condão de nos darem a conhecer a multidiversidade de um planeta, que deveríamos cuidar como não sendo exclusivamente pertença da espécie humana.
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