sábado, janeiro 26, 2019

(DIM) «Vais Conhecer o Homem dos Teus Sonhos» de Woody Allen (2010)


Há pessoas dotadas de crença em coisas tão absurdas que, vistas de fora, parecem ridículas, se não soubéssemos o quanto se confrontam com iminente tragédia. Acontece com quem espera que lhe fechem as portas do casino por já não ter mais dinheiro para aí gastar. Ou os clientes de videntes, curandeiros e outros charlatães, solicitados para que lhe concretizem os sonhos impossíveis. Ou quem dá ouvidos a gurus, lamas e outros mestres espirituais, dotados de infalíveis percursos iniciáticos direcionados a inalcançáveis nirvanas. Mas, sobretudo, os que buscam redenções em igrejas, mesquitas ou sinagogas, acreditando em segundas oportunidades noutras vidas, que não esta, desperdiçada sem ter vislumbrado a ansiada porta para a felicidade. Rodeiam-nos pessoas, que não se indignam, nem se revoltam, porque se eximem da consciência de integrarem um enorme coletivo de pobres e remediados, garantindo luxuosa vida aos que as exploram.
Quando congeminou mais um filme de baixo orçamento, como os que se sujeitou a realizar nas décadas mais recentes, Woody Allen imaginou um argumento em que os sucessivos personagens iriam dissociar-se dos quotidianos, mais ou menos estáveis, para tudo arriscarem - e se condenarem! - em insensatas ilusões.
Alfir Shepridge (Anthony Hopkins) liberta-se de duradouro casamento para ter um filho varão de uma mulher mais nova, que revela ser uma indisfarçável prostituta. A gravidez confirma-se, mas a sua exigência para um teste de ADN denuncia o que sobejamente sabia: o verdadeiro pai era um qualquer amante com que ela repetidamente o enganara.
Helena (Gemma Jones), a esposa abandonada por Alfie, entrega-se às mãos de uma charlatã, que se pressente vir a ficar-lhe com todo o dinheiro.
Sally (Naomi Watts), a filha de Alfie e de Helena, também repete a sina materna, vendo-se abandonada pelo marido, que a troca pela vizinha da frente, e não consegue seduzir o dono da galeria de arte para que trabalha - com quem sentira «pintar-se um clima» -, nem montar negócio próprio, que viesse a realizá-la.
Roy (Josh Brolin) troca Sally por Dia (Freida Pinto), que lhe parecera bem sedutora, quando espreitada da sua janela (mas como a ex também depois o sugestiona visto da perspetiva contrária!), e julga tornear a falta de talento literário roubando o manuscrito de um amigo vitimado num acidente de viação, mas, ao contrário do que julgara, não sendo ele a vítima mortal, mas a que ficara em coma, com perspetivas de vir a acordar muito em breve.
O que pode dececionar muita gente ao ver este filme é não haver transigências com finais felizes: se começáramos por conhecer os personagens nas respetivas frustrações e infelicidades, quando, no genérico final deles nos despedimos, ainda estão bem pior, até por, em grande parte, terem perdido as efémeras quimeras.
Para quem pudesse desejar um entretenimento agradável sem nada que incomodasse a quietude das cansadas meninges, Woody Allen correspondeu aqui com um tonitruante manguito!

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