Três filmes, vistos nos dias mais recentes, estiveram naquela condição do comprimido melhoral, de que se dizia não fazer bem, nem mal. Foram cinco horas, mais coisa, menos coisa, de entretenimento, mas também deles fui extraindo algumas reflexões momentâneas, sem grandes novidades quanto a mudarem o que quer que seja nas idiossincrasias, que me definem.
«Matar Saudades» constituiu uma revisão do que conhecera há trinta anos, quando Fernando Lopes o rodou. Um homem volta à aldeia de província donde saiu há sete anos para resgatar a honra supostamente perdida pela traição da mulher. É claro que a tragédia está anunciada desde início, mas avulta, sobretudo, aquela tendência dos meios pequenos para intrigarem e criarem enredos, que a realidade não confirma. Mas, porque importa mais o parecer do que o ser, as reputações mancham-se e o marialvismo expressa-se pela mais estúpida violência. Porque Abel, o protagonista interpretado por Ricardo Samora, era o tipo de homem que nenhum motivo estimulara a regressar à terra transmontana donde partira, e onde deixara a mulher, mas bastara uma carta do irmão para vir vingar-se de afrontas, que nem tentara apurar.
«Odisseia» de Jérôme Salle é uma biopic sobre a vida de Jacques Cousteau, com Lambert Wilson a interpretar o papel do dono do Calypso, e Audrey Tautou no de sua mulher. O ponto de partida é o da morte do filho aqui no Tejo, daí se recuando até á data em que decidira sair da Marinha francesa e aproveitar os lucros com a patente do fato de mergulho, para se lançar na aventura submarina.
O argumento não é grande coisa, mas denota as quase contínuas dificuldades financeiras com que se deparou para continuar naquela que se tornara uma missão mais comercial do que propriamente científica. E como havia que garantir algum condimento picante a insonsa história, também se lhe sublinhou o carácter mulherengo para sofrimento da devotada Simone, que fizera do barco de ambos a sua permanente residência.
Igualmente de França, e do mesmo ano de 2016, proveio «Os Desastres de Sofia», assinado por Christophe Honoré, que já nos proporcionara filmes anteriores de algum mérito («Les Chansons d’Amour», por exemplo).
Confesso ter começado por me espantar por recuperar do olvido as obras da Condessa de Ségur. Na minha infância via as raparigas mais velhas lerem-lhe os romances e ficara-me a ideia de conterem estórias entretanto caídas em esquecimento, tão diferentes se tornaram, entretanto, as realidades e os valores.
A visão do filme não me melhorou a expectativa: vê-se, mas a perplexidade remanescente foi a de constatar como a aristocrata francesa não facilitava a vida às suas leitoras. Nada de pieguices ou de desenvolvimentos cor-de-rosa: Sofia excede-se em tropelias, mas também passa pela morte da mãe e pelos maus tratos da madrasta até se ver confiada a quem a possa continuar a educar com a merecida ternura. Mas a sensação old fashioned não se supera.
Convenhamos que a colheita não tem sido brilhante, mas, como diria a Scarlet O’Hara, amanhã será sempre outro dia!
Sem comentários:
Enviar um comentário