Hans Christian Andersen foi um dos mais infatigáveis viajantes do seu tempo. Nos seus setenta anos de vida passou nove deles a viajar, porque considerava fundamental embrenhar-se nos ambientes onde depois viria a situar os seus contos. A credibilidade que eles suscitariam dependeria desse prévio conhecimento do espírito de cada um desses lugares.
Na sua viagem ao Oriente, que fez em 1841, o objetivo era o da descoberta de Constantinopla, por nela imaginar algo do fulgor dos contos orientais, mas a escala em Atenas revelar-se-lhe-ia muito grata.
A independência, conseguida à custa da guerra contra o império otomano, ainda era recente, porque acontecera em 1829, pelo que Andersen encontraria a capital do novo país ainda muito impregnada da cultura turca e com uma mendicidade, que saltava à vista a cada instante.
A pobreza não era algo que incomodasse Andersen já que nascera numa família com recursos muito reduzidos, porquanto a mãe era lavadeira e o pai sapateiro. Este último, apesar das restrições que conhecia, desempenhara um papel fundamental na vida do petiz nascido em 1805, porque lia-lhe histórias cheias de magia e colaborava, quando ele encenava ingénuas peças teatrais nas tardes de domingo. O jovem Hans muito sofrera, quando o pai morrera, tinha ele onze anos até por se ter visto obrigado a procurar ofício para ajudar a mãe no sustento da casa.
Voltando à estadia na Grécia, Andersen procurava, sobretudo, os vestígios da Antiguidade Clássica, que representavam para ele a corporabilidade do berço da poesia. Nessa altura, embora sem qualquer sucesso na Dinamarca natal, já era adulado na Suécia e na Alemanha pelos seus primeiros contos, conseguindo rendimentos bastantes para empreender esta viagem.
A estadia em Atenas revelou-se tanto mais agradável, quanto aí encontrou vários compatriotas contratados para conceberem e comandarem a construção dos novos edifícios com que a jovem monarquia pretendia criar uma arquitetura correspondente à nova identidade política do país. No relato da viagem, Andersen confessa quase se ter sentido em casa, dada a frequência com que tinha de comparecer nos almoços e jantares com que o brindavam. Chegou até a ser apresentado ao rei e à rainha, que o surpreenderam pela juventude e simpatia.
Mas os momentos mais gratificantes da estadia em Atenas foram colhidos na Acrópole, aonde se deslocava diariamente para se embrenhar da sensação algo mágica de pisar as mesmas pedras outrora calcadas por Sócrates ou Platão.
Tudo o impressionava e de tudo ele fez muitos desenhos. Procura incessantemente a novidade, o desconhecido, o surpreendente. E, como sempre, chegara ao porto de Pireu com um plano minucioso do que pretendia ver ou com quem preferiria contactar.
Ao apanhar o barco para Constantinopla conheceu um percalço: a polícia confunde-o com um foragido alemão e prende-o. Mas, ao apresentar as credenciais de que era portador, recebeu imediato pedido de desculpas e voltou a ser tratado com grande delicadeza.
Estava preparado para enfrentar as emoções, que a capital otomana lhe iria providenciar...
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