Foi com este «O Que está por vir», que nos despedimos do Indie deste ano e, na altura, entre muitos afazeres, nada anotei sobre este filme, que tanto nos agradou. O que não é difícil, porque basta ter Isabelle Huppert no papel principal para dar o tempo por bem utilizado.
Mas há mais do que isso: embora realizado por uma cineasta da geração da nossa filha - Mia Hansen-Løve nasceu em 1981 - ela expressa muitos dos impasses em que caiu a geração a que pertencemos, capaz de acreditar que faria a diferença num mundo pejado de injustiças, e afinal desorientada no meio de todos os compromissos a que se sentiu condicionada.
Nathalie é a professora de Filosofia que, aos 55 anos, julga a vida mais ou menos estabilizada num casamento sem chama, mas também sem conflitos, e responsável por uma coleção de livros de que muitos e orgulha.
De repente o marido abandona-a, a editora deixa de estar interessada no tipo de propostas por ela assumidas e até o seu melhor aluno, que ela visita na comuna em que ele se instalara, algures no Jura, a confronta com o facto de nunca ter arriscado verdadeiramente fazer o que quer que fosse pelas ideias solidárias em tempos por ela assumidas.
O que pode fazer Nathalie, quando todas as certezas se esboroam, sem que nada consiga fazer por as evitar? Seguir em frente é a solução! E essa é de facto a grande lição dada pelo filme: nunca nos devemos esquecer de tudo questionar, de tudo pôr em causa (é esse de facto o grande sentido da Filosofia), só havendo um caminho, o de seguir em frente. Até porque os condicionalismos acabam sempre por desaparecer, como é o caso da mãe dela, uma mulher acometida pela doença de Alzheimer, que acaba por morrer depois de tanto a solicitar nos últimos meses ou anos, ou o destino dado à gata de estimação adotada pelos «communards» do Jura.
Para Nathalie, e para todos nós, os melhores dias deverão ser sempre os que estão por vir, porque nos outros nada poderemos mudar.
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