A primeira vez que deparei com os problemas da bipolaridade foi quando um amigo viu a filha adolescente desaparecer-lhe de casa porque ia procurar forma de chegar a Caetano Veloso, que estaria por ela apaixonado. O sobressalto durou alguns dias até que, encontrada, ela foi internada durante algum tempo para lhe ser devolvida a capacidade de aceitação da realidade.
Mais tarde uma amiga da minha mulher, artista plástica de talento, confessou-lhe que, dias antes, num dos seus momentos de menos lucidez comprara três daqueles colchões então muito em voga no telemarketing.
A bipolaridade é um distúrbio muito complicado da mente, que imita um daqueles equilibristas de circo sempre instáveis em cima da corda. Neste caso dividido entre a euforia e a depressão suicidária.
Nos testemunhos colhidos por Caterina Profili no seu documentário, compreende-se que, quem dela padece, facilmente vai do paraíso da fase maníaca para o inferno do estado depressivo. A única solução reside no cocktail de medicamentos. Conhecemos assim a tenebrosa Laurence, a solar Frédérique ou Louis, que se fecha no quarto recusando qualquer alimentação.
Miguel Ângelo, Hemingway, Lincoln, Rachmaninov ou Virgínia Woolf foram doentes bipolares conhecidos. Mas existiram e continuarão a existir milhões de anónimos pacientes de uma doença que continua quase desconhecida e de difícil diagnóstico.
A realizadora parte da sua própria experiência para, com humor e ternura nas cenas de fanfarras alegres ou com medusas multicoloridas a cotejarem bonecas suicidárias ao som de um enraivecido Toscanini, dar-nos uma ideia mais aproximada do que poderá ser a vida quotidiana a padecer de tal doença.
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