É já para a semana que se antestreia no Monumental o mais recente filme de José Luís Guérin.
Nas primeiras cenas somos levados a crer que estamos num documentário, porque vemo-nos numa sala de aula onde um filólogo napolitano dá uma aula sobre a «Divina Comédia» de Dante, dele relevando o papel das musas na literatura. Mas, lentamente, vamos passando para o território da ficção onde o que está em causa é o desempenho das alunas como musas desse professor e os jogos de sedução, que se executam de parte a parte, nem sempre coincidindo o que se diz com o que se sente.
Rafaelle tenta refletir sobre o papel da mulher no mundo atual através da análise da criatividade artística e poética. Mas a esposa insurge-se contra tal projeto, que mais não reflete do que a herança da ancestral dominação masculina feita dos restos de banais histórias de sedução (Lancelot e Guinevere, Orfeu e Eurídice) e cruéis aventuras amorosas.
É nessa conjugalidade desavinda que Guérin remete para o universo cinematográfico de Rossellini com duas viagens, a primeira à Sardenha, que nos lembra o «Stromboli», quando vemos pastores a cantarem e a declamarem os seus versos, a segunda a Nápoles e às imediações do Lago Averno, com o questionamento do amor romântico sempre como proposta subjacente.
Bem podemos colocar nas agendas esta proposta cinematográfica, que promete ser uma das mais estimulantes do ano.
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