Num texto já com alguns dias eu lamentava não conhecer exemplos bem sucedidos de autores lusos capazes de difundir códigos morais estruturantes como os franceses encontraram na literatura do séc. XVIII ou os argentinos com as coplas de Martin Hierro. Evocava até a triste sorte do Padre António Vieira, que se vira na contingência de se autojustificar com um sermão de Santo António aos Peixes.
Estava, porém, a esquecer Saramago cujos textos esparsos, publicados em milhentas publicações a nível mundial e os seus Cadernos de Lanzarote muito ganhariam em ser melhor divulgados, até mesmo em ambientes escolares. Porque, substituindo-se a filósofos singulares, mas algo alucinados como o foi, por exemplo, Agostinho da Silva, Saramago pensou lucidamente a sociedade contemporânea e foi dela crítico acerbo. Vendo, por exemplo, o primado do mercado como uma indesmentível ditadura ou o ser humano como entidade privada de razão, capaz de ver o planeta a caminho da destruição, mas nada alterando no seu percurso apocalíptico como se se tratasse de uma multidão de lemmings suicidas entretidos, igualmente, em irem-se trucidando uns aos outros nesse caminho.
Pagando o custo da sua militância política Saramago anda a ser injustamente ostracizado por quem mais o deveria fazer escritor de conhecimento obrigatório...
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