O episódio ainda hoje é comentado cá em casa apesar de se ter passado há muitos anos: uma pessoa próxima concorreu a um concurso televisivo chamado «Arca de Noé» e viu-se eliminada na pré-seleção por discutir com a produtora do programa, e júri do mesmo, em como os animais tinham inteligência, coisa descabida para tal interlocutora, que só a aceitava como existente nos seres humanos.
Durante séculos foi assim: o que supostamente distinguiria o homem dos outros animais era ter cultura. Mas já nos anos 60 essas convicções viam-se abaladas pelos estudos de diversos primatólogos, nomeadamente de Jane Goodall, a primeira a defender, após laborioso estudo dos chimpanzés no seu habitat natural, que eles tinham a capacidade para utilizar, e até fabricar, uma ferramenta.
Cinquenta anos depois esses estudos prosseguem, sendo um deles liderado por Thibaud Gruber, um investigador da universidade de Neuchatel, que anda nas florestas ugandesas a pesquisar se o comportamento dos macacos decorre dos seus genes se de uma aprendizagem gradual.
Os resultados são surpreendentes: em duas regiões distintas , outros tantos grupos de macacos da mesma espécie utilizam soluções radicalmente diferentes para resolver o mesmo problema. Tudo aponta para a transmissão, de geração em geração, de uma cultura própria, mormente através de uma linguagem específica para cada uma delas. Ainda que subsistam alguns detratores destas estudos, que insistem na impossibilidade de existir essa cultura transmissível noutros primatas, que não no homem, cada nova descoberta aproxima-nos cada vez mais dos nossos parentes símios. Há já quem se apresse a negar a evidência de uma peculiaridade humana.
O documentário de Eva Demmler e Axel Friedrich, datado de 2013, acompanha as pesquisas científicas em curso sobre esta matéria.
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