Creio não errar, quando digo que só um número muito reduzido de portugueses conhece a obra de Hubert Robert, um pintor francês do século XVIII, de quem o Louvre promoveu uma retrospetiva muito interessante entre março e maio deste ano. Pessoalmente agradam-me bastante as suas arquiteturas e paisagens em ruínas, que anunciavam o fim da arte do Antigo Regime e a eminente afirmação do Romantismo.
Os seus quadros eram tão facilmente de identificáveis que os próprios contemporâneos tinham-no alcunhado de «Robert das ruínas».
Nascido em 1733, ele iniciara-se na pintura sobre edifícios, quando esteve em Roma na época em que ai pontificava Piranese com as suas representações de labirínticas prisões, e os seus parceiros “vedutisti”, cujas inovadoras ilustrações das paisagens impunham a regra de nelas pintar “tudo o que se via”.
Mas, mais do que essas influências de outros artistas, os onze anos em que ali permaneceu, levaram-no a interessar-se, sobretudo, pelos monumentos em ruínas espalhados pela cidade, mormente o Coliseu e a Praça do Capitólio, mas também os jardins e alguns elementos isolados da arquitetura local.
Ao regressar a Paris em 1765, Hubert Robert depressa conheceu o sucesso com os seus arcos de triunfo cobertos de ervas daninhas e os pórticos desabados. Diderot é um dos entusiastas ao considera-los capazes de suscitarem uma “doce melancolia”: “Viramo-nos para nós próprios, antecipamos os efeitos da passagem do tempo… E eis assim consagrada a poética das ruínas”.
A justaposição de personagens ocupados com as suas tarefas quotidianas junto a essas sumptuosas e lúgubres ruínas, por exemplo raparigas a meterem-se com um eremita a rezar junto a um templo romano, mostram a contradição entre a alegria quase inconsciente de alguns perante a simbologia da finitude a que se revelam alheados.
As ruínas sugerem, de facto, a presença implícita da morte à nossa volta e tornam sublime a Natureza que retoma do seus direitos, continuando a resplandecer, quando os homens desaparecem e as suas obras desmoronam.
Hubert Robert cria assim uma nova ilustração da paisagem, que deixa de ser constituída pela rigidez geométrica do jardim francês e sugere uma nova estética do caos, da desordem. Integra, por isso, e sem surpresa, o elenco dos Iluministas, convidado não só para criar muitos dos quadros decorativos dos corredores e salões da Corte, mas também assegurando a memória do que era Paris no seu tempo e a Revolução Francesa de que foi testemunha.
Nos seus anos mais provectos foi nomeado para conservador do Museu Central das Artes, que viria a ser o futuro Museu do Louvre.
O que a exposição dos últimos meses permitiu esclarecer é que ele não se limitou às paisagens poéticas, que o tornaram conhecido. Também constam da sua obra alguns caprichos urbanos e arquiteturais, estudos arqueológicos e até projetos para jardins paisagísticos e decorações palacianas.
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