Há cerca de um ano não manifestei grande entusiasmo com a leitura do romance «Ave de Mau Agoiro», um livro de 2006 da autoria de Camilla Lackberg.
Dava no entanto para perceber os aspetos essenciais da sua série de romances policiais passados cidade costeira de Fjällbacka, região donde a autora é natural: à partida a descrição de um crime horrendo a ser investigado pela polícia local, comandada por Patrick Hedstrom, cuja movimentada vida familiar com a mulher, uma escritora reconhecida e os seus três filhos, condiciona muitas vezes a disponibilidade para concretizar o melhor possível a investigação. Sobretudo, porque sendo ainda muito pequenas, essas crianças põem-lhes a casa em polvorosa...
Este romance de 2014 começa com uma rapariga, desaparecida há várias semanas, a surgir desnorteada numa estrada deserta e batida pela neve de janeiro e a ser involuntariamente atropelada por um carro. Mas o que os médicos do hospital para onde ela foi levada mais estranharam não foram as hemorragias internas causadas pelo acidente em si, mas as lesões por ela já trazidas no momento fatídico: os olhos esvaziados, os tímpanos furados e a língua cortada, indiciando torturas inomináveis.
Ninguém sabia de Victoria Hallberg desde que saíra de uma aula de equitação e se dirigira para casa.
Enquanto Patrick toma conta dessa investigação, a mulher, Erica Falk anda a visitar um centro de detenção onde está presa uma mulher há mais de vinte anos por ter assassinado o marido, um domador de leões, que lhe dera dois filhos.
O casal de protagonistas ainda está longe de imaginar como essas histórias se vão entrelaçar, remetendo-os para décadas atrás e para o confronto de um psicopata com o instinto materno de que se opera uma reflexão, quer em Erica (a contas com os gémeos na fase do “não”) , quer nessa Laila, objeto da pesquisa para o novo romance.
À partida Patrick tenta compreender a razão do desaparecimento de várias raparigas, de uma forma ou de outra relacionadas com o estranho clube hípico onde Victoria costumava andar a cavalo.
A chave para esclarecer o mistério residirá na localização dos dois filhos de Laila e do domador de leões, porque os horrores do passado parecem interligar-se com as monstruosidades do presente.
O que mais suscita interesse nos policiais escandinavos é não se dar tanta importância ao crime em si, mas aos porquês que lhe terão estado na origem. Porque refletem o estado das coisas numa sociedade que, desde os assassinatos de Olaf Palme ou Anna Lindh, sabemos bem mais perturbada do que suporíamos à partida.
Confesso que, um ano passado sobre a leitura do citado romance de Camilla Lackberg olho para este com bastante mais interesse, mesmo com a desconfiança inerente ao facto de se tratar daquele tipo de livros, que se vendem como pãezinhos.
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