terça-feira, agosto 11, 2020

(EdH) As falíveis previsões do almirante Fitzroy


Há quem não recolha o devido mérito daquilo que concebeu como inovador e tudo fez para o tornar possível. Foi o caso de Robert Fitzroy, que ganhara notoriedade como capitão do «Beagle« na célebre viagem de Charles Darwin pelos mares do sul onde se este colhera evidências bastantes para fundamentar a sua Teoria da Origem e Evolução das Espécies, Depois fora governador na Nova Zelândia entre 1843 e 1845, regressando a Inglaterra aureolado de um prestígio, que lhe valeu ser um dos mais conceituados almirantes da Royal Navy, quando uma medonha tempestade causou o naufrágio de inúmeros navios em outubro de 1859, entre eles o pujante «Royal Charter», que vinha carregado de emigrantes e de ouro do outro lado do Atlântico.
Tão só feito o balanço trágico desse fenómeno meteorológico logo Fitzroy começou a pensar na forma de criar uma previsão cientificamente sustentável, que acautelasse os perigos a quem fazia vida no mar. Criou então diversas estações meteorológicas, espalhadas pelas Ilhas Britânicas, que lhe comunicavam por telégrafo - então recentemente inventado! - as condições de temperatura, velocidade do vento, pressão atmosférica e humidade, e possibilitavam uma antevisão do que aconteceria no dia seguinte. Assim sucedeu que, há quase cento sessenta anos - em 1 de agosto de 1861 - Fitzroy arriscou a primeira previsão meteorológica de que a História reteve memória, fazendo-a suceder de muitos outras nos meses seguintes.
Não faltaram, porém, detratores, que não lhe perdoavam os erros: houve pescadores, que perderam dias de faina, porque recebiam conselho de se resguardarem em terra de tempestades, que acabavam por não acontecer, assim como muitos londrinos abusavam da chacota, quando Fitzroy previa dias de sol e caiam chuvas abundantes, encharcando quem nele acreditara e não se munira de chapéu-de-chuva.
Desprezando os fundamentos científicos do projeto de Fitzroy os críticos tornaram-se tão chocarreiros nas intervenções públicas e na imprensa que há quem associe essa duradoura campanha à decisão dele se ter suicidado em 1865.

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