segunda-feira, agosto 10, 2020

(DIM) O Tesouro de El Condor, John Guillermin (1970)


No verão de 1970, numa tarde em que me passeava por Lisboa sem nada de particular para fazer, entrei no Monumental e pus-me a ver um filme sobre o qual nada sabia. Apesar de já ter atividade desde os anos 50, o realizador John Guillermin só viria a merecer-me alguma atenção na década então iniciada com títulos como King Kong, Morte no Nilo ou A Torre do Inferno. Do elenco também nada de significativo: Jim Brown era famoso nos EUA onde fora bem sucedido jogador da National Football League, Lee Van Cleef ia aparecendo como secundário em filmes sem qualquer impacto e Mariana Hill nunca traduziria na tela ou em séries televisivas o saber que a fez relevante professora do Método de Lee Strasberg.
Nunca mais teria lembrado esse O Tesouro de El Condor se não me tivesse surgido num destes dias como proposta num dos canais por cabo. E assim me revi na pele do adolescente entediado, que passara uma tarde cinematográfica satisfatória a usufruir do ar condicionado da enorme sala do Saldanha e acautelado da canícula exterior.
O enredo em si não tinha nada de novo: o foragido de um campo de trabalhos forçados procura um garimpeiro solitário para, associando-se a uma tribo apache, atacarem uma fortaleza no meio do deserto mexicano onde o tesouro do antigo imperador Maximiliano estaria guardado. Não faltam filmes sobre a ambição desmedida dos homens, que acabam de mãos vazias depois de numerosas vicissitudes. O Tesouro da Sierra Madre é, porventura, aquele que melhor expressou essa inglória busca de uma vã riqueza material.
Aqui o tesouro também é falso: as barras de ouro são afinal feitas chumbo e pintadas a cor dourada para iludirem os papalvos. O que não obsta a que se sucedam os tiros, as explosões, os efeitos especiais, para além de uma cena de nudez que duvido ter escapado, então, aos rigores da censura.
Há a novidade de Guillermin ter dado o papel principal a um negro, o que raramente acontecia nos westerns e desmentiria o carácter inovador de Tarantino, quando recentemente se atreveu a fazê-lo. E a fortaleza construída na província de Almeria para servir de cenário a este filme seria reutilizada noutros títulos ali rodados nos anos seguidos.
Apesar da rodagem em Espanha, O Tesouro de El Condor nada tem a ver com o western spaghetti ao jeito de Sergio Leone, melhor se integrando na lógica do cinema de aventuras. E só agora constatei que a banda sonora é do muito apreciável Maurice Jarre.

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