domingo, agosto 02, 2020

(DIM) «Esplendor» de Naomi Kawase (2017)


Sobre este filme de Naomi Kawase, estreado entre nós há dois anos, Luís Miguel Oliveira escreveu no «Público» ser daqueles que dá vontade de reagir-lhes fechando os olhos. Não acrescenta o explícito objetivo de aproveitar para adormecer, mas convenhamos que deve ter-me assim acontecido porque, à segunda oportunidade para o ver, nada retivera da primeira.
A protagonista do filme é Misako, uma rapariga que prepara os textos das audiodescrições destinadas a acompanharem a apresentação de filmes a deficientes visuais. No painel de teste utilizado para aferir o sucesso do trabalho antes de ser publicamente apresentado, conhece Nakamori, um conceituado fotógrafo acometido de uma doença, que o fará resvalar para a cegueira definitiva. É ele um dos mais veementes críticos do que ela propõe, verberando-lhe o excesso de palavras com que pretende detalhar as paisagens ou as emoções dos personagens.  Sugere, em suma, o quanta violência pressupõe o ato de nomear, descrever ou verbalizar as imagens, logo desprovidas de quanto contém de mistério ou de apelo ao imaginário.
Para explorar a dificuldade de traduzir imagens em palavras, Naomi Kawase recorre a um estilo nervoso, feito de planos curtos, quase sempre em cima dos corpos ou rostos dos atores, caçando-lhes o mínimo gesto com zooms e reenquadramentos acelerados.
O interesse das questões teóricas levantadas - sobretudo nas cenas passadas no painel com a meia dúzia de espectadores interventivos - não exclui que Kawase prolongue exageradamente o filme mediante a inserção do relacionamento de Misako com a mãe que, em si, nada adianta para o fio condutor da história nele contada.
É consensual a tese segundo a qual a realizadora já viveu momentos criativos mais interessantes...

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