Sobre este filme de Naomi Kawase, estreado entre nós há dois anos, Luís Miguel Oliveira escreveu no «Público» ser daqueles que dá vontade de reagir-lhes fechando os olhos. Não acrescenta o explícito objetivo de aproveitar para adormecer, mas convenhamos que deve ter-me assim acontecido porque, à segunda oportunidade para o ver, nada retivera da primeira.
A protagonista do filme é Misako, uma rapariga que prepara os textos das audiodescrições destinadas a acompanharem a apresentação de filmes a deficientes visuais. No painel de teste utilizado para aferir o sucesso do trabalho antes de ser publicamente apresentado, conhece Nakamori, um conceituado fotógrafo acometido de uma doença, que o fará resvalar para a cegueira definitiva. É ele um dos mais veementes críticos do que ela propõe, verberando-lhe o excesso de palavras com que pretende detalhar as paisagens ou as emoções dos personagens. Sugere, em suma, o quanta violência pressupõe o ato de nomear, descrever ou verbalizar as imagens, logo desprovidas de quanto contém de mistério ou de apelo ao imaginário.
Para explorar a dificuldade de traduzir imagens em palavras, Naomi Kawase recorre a um estilo nervoso, feito de planos curtos, quase sempre em cima dos corpos ou rostos dos atores, caçando-lhes o mínimo gesto com zooms e reenquadramentos acelerados.
O interesse das questões teóricas levantadas - sobretudo nas cenas passadas no painel com a meia dúzia de espectadores interventivos - não exclui que Kawase prolongue exageradamente o filme mediante a inserção do relacionamento de Misako com a mãe que, em si, nada adianta para o fio condutor da história nele contada.
É consensual a tese segundo a qual a realizadora já viveu momentos criativos mais interessantes...
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