quinta-feira, agosto 13, 2020

(DIM) A Jovem Rosemarie, Rolf Thiele (1958)


O assassinato da prostituta Rosemarie Nitribitt em Frankfurt, ocorrida em 1957, foi explorada mediaticamente pela imprensa da Alemanha Ocidental da época por contarem-se entre os seus clientes alguns dos principais industriais da cidade de quem ela andava a colher informações relevantes graças às confidências colhidas nas conversas de travesseiro. Em pouco tempo rodaram-se duas produções de garantido êxito comercial à conta desse interesse mórbido: este, assinado em 1958 por Rolf Thiele, em que o realizador intercala números musicais a lembrarem a tradição do cabaré berlinense e O Amor é a Minha Profissão de Rudolf Jugert em 1959.
O filme é explícito no contraponto entre o «milagre económico» de uma Alemanha, que deveria ser montra persuasiva para os que viviam do lado oriental e poderiam sentir-se tentados a preferirem o modelo capitalista. Mas se Rosemarie envereda pelo caminho, que a levará à perdição será por se fartar da miséria e julgar-se capaz de ascender socialmente através de soluções, que o cúmplice francês Fribert acena como de inevitável sucesso.
Representativo de um cinema alemão, que antecederia o da notável geração, que incluiria Fassbinder, Herzog, Syberberg, Wenders ou Schroeter, A Jovem Rosemarie comporta alguns curiosos motivos de interesse a começar pelas interpretações de Nadia Tiller - então uma das mais populares atrizes austríacas - ou os razoavelmente conhecidos Mario Adorf ou Gert Frobe (quem o poderia esquecer como o Goldfinger do filme com o 007 Sean Connery?).
Apresentado em Veneza de 1958, o governo de Adenauer tentou impedir essa exibição não só porque a autoria do crime ainda não se esclarecera (como se manteve assim até hoje!), mas sobretudo por pôr em xeque a classe empresarial, que lhe servia de suporte político.

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