quarta-feira, agosto 19, 2020

(DIM) Asako I e II, Ryûsuke Hamaguchi (2018)


Em 2015 o realizador japonês Ryûsuke Hamaguhi entusiasmou os cinéfilos com um filme de cinco horas de duração intitulado Happy Hour. Três anos depois este Asako I e II não suscitou tão rendido entusiasmo, mas é filme curioso na forma como aborda o tema do duplo num mistério com o seu quê do hitchcockiano Vertigo.
Tudo começa numa exposição fotográfica em Osaka, quando a protagonista aprecia o retrato de duas gémeas. Nessa altura chama-lhe a atenção um outro visitante, a quem segue e por quem se faz beijar. Baku, assim se chama, é um rapaz irreverente, que se sabe por um amigo ter sempre predisposição para desaparecer durante semanas a fio. Para Asako é, porém, o grande amor, numa lógica de incomensurabilidade decorrente dessa atração como um mistério fadado para assim se manter.
Completamente rendida à paixão, Asako fica à deriva, quando Baku desaparece sem deixar rasto. Durante meses o objeto de desejo mais potenciado ficou por via da sua ausência. Até que muda de cidade, trocando Osaka por Tóquio e aí buscando novo futuro. Que se lhe torna inesperado porque Ryohei, um jovem executivo de feitio completamente oposto ao de Baku, é seu perfeito sósia - os dois papéis são desempenhados pelo mesmo ator.
Asako faz jus ao título tornando-se numa outra, porque aprecia a sensatez e o estereotipado classicismo do novo amante. É quando a transferência dele para Osaka justifica a oficialização do elo entre ambos através de casamento convencional, que Baku reaparece e leva consigo a antiga amante, subitamente fascinada pela recuperação daquela que fora no passado.
Se James Stewart ficava na dúvida sobre que Kim Novak reencontrava quase no final, Ryuhei é mais decidido: se a primeira Asako viera resgatar a personalidade daquela que ele tão bem julgara conhecer, a nenhuma delas pretende dar nova oportunidade. Embora a persistência da rapariga, definitivamente encarrilhada em qual das personalidades se pretenderia encaixar, possa reverter essa decisão. Mesmo que deixando-o na eterna dúvida de, perante a duplicidade dela, com qual lhe caberia viver...

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