quarta-feira, agosto 12, 2020

(AV) Munch vale muito mais do que o seu «Grito»


Lamento que, das estadias em Oslo, nunca me sobrasse tempo para ir ao Museu Munch. Não pude assim deparar-me com a realidade palpável do célebre O Grito (1893), que continua a ser tão atual, mais de um século depois do pintor ter captado na tela a ansiedade e o desespero de quem nela abre descomunalmente a boca, ehoje associável a uma natureza planetária sujeita às agressões perpetradas pela nossa sociedade humana. Não admira que, perante tantos motivos para nos sentirmos insatisfeitos com o mundo atual, nos imaginemos na pose daquele personagem cujos motivos deram já ensejo a tantas hipóteses.
Como gosto muito das obras de Marina Abramovic teria visto com agrado a performance da sua autoria quando, em 2013, pôs umas dezenas de pessoas a replicarem essa expressão tendo por plano de fundo o enquadramento escolhido por Munch.
Curiosamente, se tivesse colocado como prioritária a visita à obra do pintor nessas oportunidades talvez procurasse preferencialmente O Sol, que resultou das pesquisas do pintor sobre os fenómenos óticos, para tornar visível o invisível. Ou às xilogravuras da fase mais tardia da obra, uma delas - Em Direção à Floresta - escolhida por  Karl Ove Knausgård para dar título à ambiciosa retrospetiva do artista em 2017 e em que uma das mais polémicas opções como curador terá sido a de não incluir a sua mais icónica obra. Com uma justificação: merecendo demorada apreciação para ser devidamente avaliado, O Grito retiraria importância a todas as demais obras merecedoras de igual atenção...

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