quinta-feira, maio 12, 2022

O Livro das Ilusões, Paul Auster, 2002

 

Não falta muito para dar por inteiramente lida a obra de Paul Auster. Mesmo que lhe tivesse preferido Philip Roth ou Don DeLillo como candidatos mais justamente premiáveis com o Nobel da Literatura do que um desonesto baladeiro, temporariamente dado à beatice, e mais duradouramente assumido investidor de empresas ligadas ao fabrico de materiais de guerra.

Agora foi a vez de conhecer este romance de há vinte anos em que, uma vez mais, surgem as singulares coincidências idiossincráticas e os percursos biográficos com intensas vicissitudes a sucederem-se até surgir a oportunidade de, delas, lavrar balanço. É o que se passa com David Zimmer, o protagonista, que se vê viúvo e sem os filhos, quando um acidente de aviação os mata em junho de 1985. Ou esse Hector Mann, ator e realizador de comédias de slapstick do final do cinema mudo, que ele julgava há muito morto depois de ter desaparecido em 1929, mas afinal com um percurso de vida surpreendente como acaba por comprovar nos poucos dias em que pode contactar com quem o conheceu, ou com ele na mesma noite em que se finará.

Alma, a filha de um dos principais amigos e colaboradores de Hector, será presença meteórica na vida de David, que por ela se enamora e com quem chega a ponderar a hipótese de se reconstruir numa vida a dois não se dê o caso de saber-lhe o suicídio depois de ver em cinzas tudo quanto constituíra o seu projeto de vida... ou de escrita. Porque há um anjo destruidor a velar por que ninguém conheça quem fora e o que criara Hector enquanto fora vivo. E, nesses muitos anos de vida, eivados de contradições e mistérios, não tinham faltado episódios turbulentos, com amores intensos, mortes acidentais, enterros clandestinos, empregos de ocasião em que o sexo também estivera envolvido, e culminados no assalto a um banco donde emergira como inesperado herói.

Quinze anos depois dos acontecimentos, que testemunhara num rancho do Novo México, lê-se o Livro das Ilusões como o testamento de quem reservou para depois do próprio passamento, o relato de tudo quanto de estranho presenciara... 

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