Das grandes cidades europeias Berlim é a que mais se reinventou depois da destruição de que despertou no final da Segunda Guerra Mundial e da divisão depois proporcionada pelos tempos da Guerra Fria.
Em 1987 quando decidiu aí rodar «As Asas do Desejo», virando costas a Hollywood depois do sucesso de «Paris Texas», Wim Wenders não imaginava a transformação que ela conheceria depois da queda do Muro, dois anos depois. Retratou-a então como ela lhe parecia: cinzenta, lívida, marcada pelas cicatrizes da sua História.
Hoje se quisermos visitar as paisagens mais icónicas do filme teremos de prescindir de algumas delas, nomeadamente esse vasto espaço vazio conhecido como Potsdamer Plaz, onde os anjos vagueavam indolentemente, e agora ocupado por edifícios modernos quase todos destinados a escritórios. Vários arquitetos conhecidos transformaram-no em algo que nada tem a ver com o que se vê no filme de Wenders.
Um autocarro de dois andares, tal qual um outro, que também surge no filme, propõe levar os interessados a boa parte dos monumentos mostrados no filme. Por exemplo à Coluna da Vitória de cujo topo um arcanjo protetor olha pela cidade desde o final do século XIX. Ou a Biblioteca Estatal, construção vanguardista do final dos anos 70, que Wenders utiliza como sítio onde os anjos buscam repouso e perscrutam a alma dos berlinenses. Ou ainda Kreuzberg, que continua a constituir o foco da contracultura com as suas salas de rock nas caves ou as galerias de arte.
Do Muro resta um quilómetro, que parece, porém, muito mais comprido do que o é na realidade. E ali se viu o anjo personificado por Bruno Ganz a transformar-se no homem de carne e osso que aspirava ser.
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