domingo, maio 15, 2022

Chico - Artista Brasileiro, Miguel Faria Jr., 2015

 

Com sete anos de atraso vejo este documentário dedicado a um verdadeiro monumento vivo da cultura brasileira, quer como cantautor de alguns dos seus temas mais vibrantes, quer enquanto ativista político contra a ditadura nos anos 60 e 70, quer ainda, mais recentemente, na pele de escritor de sucessivos romances de irrepreensível sucesso e talento.

Da montagem das trinta horas de conversas com ele, Faria Jr. salienta todos esses aspetos, tratando com elegância o fim da relação de trinta anos com Marieta Severo, mas dando justificado enfoque às revelações sobre o irmão alemão, que ele nunca chegou a conhecer, mas a quem foi à procura, mesmo descobrindo ter ele entretanto falecido em Berlim em 1981. Algumas das imagens de arquivo mais curiosas do filme referem-se a esse ator e cantor pouco conhecido, mas de quem sobraram imagens bastantes para lhe constatar as semelhanças físicas com o clã Holanda de que viveu sempre apartado.

Há também a evocação de muitos temas, quer por Chico, quer por muitos dos que lhe deram voz, desde  Maria Bethânia a Ney Matogrosso ou de Adriana Calcanhoto a Milton Nascimento. Mas teria preferido que Faria Jr. explorasse a filiação dele a Dorival Caymii em vez da demonstrada para com Nelson Cavaquinho, sobretudo pelo grande momento que foi a cumplicidade entre ambos na partilha da interpretação de «Maricotinha».  Ou

O que espanta é aproximarem-se os sessenta anos de atividade artística de Chico porque, mesmo tão recheada de acontecimentos conturbados - sobretudo na relação com os que o quiseram silenciar! - tudo decorreu tão depressa que, num ápice, parece à beira de se concluir. E, claro está, falta ao documentário este período mais recente em que tem sido um dos principais opositores ao bolsonarismo que tem repetido em registo de farsa, aquilo que foi prática recorrente dos ídolos, que o ainda presidente brasileiro, tanto admirou. Até porque, apoiando Lula desde sempre, o saberemos na primeira fila dos que estarão presentes, quando o antigo presidente voltar a ganhar o acesso ao Palácio do Planalto.

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