segunda-feira, maio 16, 2022

Naufrágio, João Tordo, 2022

 

Encaminho-me para o final do romance de João Tordo e já entranhei aquilo, que começara por estranhar: ter como narrador um antigo escritor, que perdera as graças da escrita, se vira ameaçado por um cancro e - como nenhuma desgraça vem só! - vê-se acusado de assédio sexual por sete vingativas mulheres. O que o transforma num pária, condenado a viver num pequeno iate ancorado na doca de Santo Amaro e a só ter por companhia um cão cujo nome sobre ele tudo diz: Sozinho.

Perante o tema não é fácil criar empatia pelo personagem, por muito que se lhe reconheçam características distintas de um padrão maniqueísta. Ao invés, até vamos criando alguma adesão ao desejo de redenção, sem se fazer acompanhar de nenhuma justificação plausível para uma culpa, que não enjeita. E como o autor tem a tarimba e o talento para conferir ao romance um interesse que, à partida, não seria fácil atribuir-lhe, é com prazer, que me aproximo do seu, tanto quanto mo dizem, inesperado final.

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