sexta-feira, maio 20, 2022

Monstros ibéricos

 

São esbugalhados os olhos que Goya pinta ou desenha, quando o seu pensamento iluminista confronta-se com a brutalidade dos exércitos napoleónicos. A desilusão leva-o a exilar-se numa casa fora de Madrid, que passa a ser conhecida como a do surdo. O rei, seu patrão, regressa ao trono e a impor um absolutismo, que execra. E os amigos - quase todos eles, acusados de «afrancesados» - partem para o exílio donde o chamam por o saberem desajustado da nova Espanha inquisitorial, que nada tem para lhe oferecer. A não ser a inspiração para os monstros, que passaram a ser motivo quase exclusivo de inspiração. Torna-se inevitável essa tentação por ares mais respiráveis do outro lado dos Pirenéus, onde acaba por morrer em 1828 quando, no nosso cantinho ocidental, já nos livráramos da mesma tentação ditatorial.

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