quinta-feira, maio 19, 2022

Longa Noite, Eloy Enciso Cachafeiro, 2019

 

Uma mendiga pede autorização a um colega de desventura para partilhar-lhe o espaço de recolha de esmolas agora que o tempo chuvoso a impede de situar-se no sítio do costume. Um homem volta para casa numa camioneta e é interrogado por um falangista, que bem lhe adivinha condição outra à de comerciante sob que ironiza vê-lo. Uma mulher recusa mais guerras, mesmo aceitando implicitamente a ordem ditada pelos vencedores da que manchara de sangue o chão que pisavam. Um antigo combatente confessa como passara da motivação da luta para a do compromisso com quem o derrotara. O mesmo homem, vindo de fora (fugido? solto da prisão?) imita o tio Boonme do filme de Apichtapong Weerasethakul, internando-se no bosque e afundando-se na terra, ali desaparecendo.

Contemplativo, porventura irritando os que gostam de filmes de ação, com planos fixos de mais de cinco minutos, reconhece-se em Eloy Enciso Cachafeiro um cineasta filiado na inspiração de Pedro Costa em muitos outros cineastas europeus. A princípio pode estranhar-se, mas depressa rendemo-nos à beleza estética dos fotogramas, tantos deles passíveis de transformados em fotografias a valerem por si mesmas. E há a ambiência entre o sonho e a realidade sobre um tempo - o que se seguiu à vitória e consolidação do franquismo - que Cachafeiro escusa-se a representar numa tentadora perspetiva maniqueísta.

Um dos filmes mais estimulantes vistos nas semanas mais recentes e com a complementar curiosidade de testarmos o nosso conhecimento do idioma galego. 

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