segunda-feira, maio 30, 2022

Desmistificar Modigliani

 

Quando se pensa em Modigliani é quase inevitável pensar na morte precoce aos 35 anos e no imediato suicídio da sua grávida companheira e musa, Jeanne Hébuterne, então com apenas 21 anos. Mas peca por exagerado o mito, muito disseminado, do percurso de um pintor maldito, vencido pela doença e com propensão para a autodestruição. Essa imagem é falsa, porque Amedeo sempre demonstrou uma enorme alegria em viver.

Inicialmente vocacionado para a escultura - e aprender com os mestres franceses no talhar da pedra explica a mudança para Paris em 1906! - decidiria depois orientar-se para a pintura porque, através dessa expressão artística, poderia concluir mais rapidamente as obras em si imaginadas. Mas convenhamos que os retratos têm todos um lado escultórico, que decorre dessa premissa inicial. Há igualmente a expressão enigmática dos rostos, que muito se inspiraram nas obras da Renascença italiana, que Amedeo observou intensamente enquanto viveu em Livorno, Veneza e, sobretudo, Florença.

Na biografia também não foi Jeanne a única musa inspiradora. Antes dela houve  a britânica Beatrice Hastings, obsessivamente pintada entre 1914 e 1916, com quem a relação amorosa foi intensa, tumultuosa e, depois, inevitavelmente encerrada. E, embora só depois de morto tenha sido reconhecido como artista maior da sua época, nunca lhe faltaram mecenas, que lhe facilitassem o sustento, inicialmente garantido por uma pequena herança com a qual vira franqueada a mudança para o bairro da Madeleine em Paris. Cidade onde para sempre ficaria ou não seja ele um dos famosos inquilinos do cemitério do Père Lachaise!

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