terça-feira, agosto 06, 2019

(I) A pertinência do rewilding


Durante este século acentuar-se-á o movimento de populações dos campos para as cidades, que verão alargadas as suas extensões, com o subsequente abandono de vastas regiões a elas periféricas. O fenómeno tem expressão entre nós através do muito referenciado abandono do interior, todos os anos devastado por pavorosos incêndios que põe muitos «especialistas» a perorar sobre as suas causas e paliativos para os resolver, mas todos obrigados a reconhecer que essas regiões nunca voltarão a ser como os mais saudosistas recordam. Faz sentido o crescente empenho de autoridades governativas e movimentos de conservação da Natureza para que sejam devolvidas ao seu estado selvagem. Ou seja ao seu rewilding.
Devolvem-se lobos e ursos a territórios onde, outrora, abundaram e criam-se experiências muito interessantes sobre a reconstrução dos territórios mediante a introdução de herbívoros de grande porte, fundamentais para a criação de uma cadeia alimentar sustentável.
Um dos projetos europeus, que merece  a atenção da comunidade científica, é o que, há quase vinte anos, está em curso na Reserva da Faia Brava no vale do Coa: além da recuperação dos quase extintos britangos e grifos, estão a aumentar as populações bovinas selecionadas inicialmente com as características genéticas aproximadas dos desaparecidos auroques, porém tão presentes nas inscrições rupestres espalhadas pelo parque.
Outras experiências bem sucedidas na Roménia, nos polders holandeses, nos Dolomitas, na Grã-Bretanha e outras regiões europeias tendem a demonstrar que a Natureza dispensa bem a excessiva intervenção humana para que adquira dinâmica própria, com animais, árvores e plantas a criarem os seus próprios equilíbrios a todos favoráveis para que se multipliquem com sucesso.
Para o nosso país a alternativa aos incêndios estivais parece óbvia: concretizado o cadastro de todo o território de forma a esclarecer os direitos de propriedade de quem os detém, podem criar-se novas reservas onde a Natureza reassuma os seus direitos, libertando-se de espécies vindas de outros habitats - os eucaliptos! - que nela não deverão ter cabimento.
O rewilding constitui uma estratégia, que a evolução demográfica e económica tenderá a potenciar. Porque, depois de tanto apostar numa seleção natural baseada na opção por espécies mais adaptáveis ao capitalismo selvagem, os requisitos da diversidade começam enfim a impor-se em todo o espaço europeu.

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