quinta-feira, agosto 01, 2019

(DL) Uma breve leitura para os dias estivais


As férias de verão servem de alibi para leituras mais ligeiras, sobretudo, se não exigirem duradoura. É o caso do romance de Daniel Kehlmann, que anda pelas cem páginas e nos mergulha num primeiro nível de leitura, que tem a ver com o género fantástico.
Passando férias com a mulher e a filha de quatro anos numa aldeia alpina, o protagonista anseia escrever o argumento para a continuação de um filme, de que assegurara a narrativa anterior. Mas algo de inquietante decorre da permanência naquela casa sobre a qual os aldeãos parecem saber antecedentes, que se escusam a divulgar para além das breves alusões. Sem compreender como o escritor vê alterar-se a geometria das paredes e respetivas divisões ou dá com palavras, que não as por ele escritas, no seu caderno.
Poderia tratar-se de uma história ao jeito das muitas, que Stephen King tem publicado, mas adivinha-se ambição maior, porque começa-se a questionar a fronteira entre a realidade e a imaginação do protagonista, tanto mais que ele revela ambíguas inseguranças sobre a bondade das suas opções de vida.  Entre quem foi, é e pretende vir a ser esse escritor tem na inesperada evolução dos dias a perturbadora revelação do que o possa redefinir.

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