sexta-feira, agosto 30, 2019

(DIM) Pawel Pawlikowski, um realizador sobrevalorizado


Se há realizadores, que vêm sendo sobrevalorizados nos últimos anos, por conta dos prémios com que foram distinguidos, é o polaco Pawel Pawlikowski, que viu os Óscares e o Festival de Cannes incensarem-no como valor seguro do cinema contemporâneo.
«Ida» surpreendera-nos, não tanto pelo tema - o da procura das verdadeiras origens pela noviça de um convento - mas pela fotografia a preto-e branco, que justificava só por si a atenção sem nada de mais substancial a exigir-lhe. Essa mesma qualidade repete-se em «Guerra Fria», mas já sem o argumento da surpresa. Daí que nos focalizemos na narrativa, melodrama pouco original sobre o tema «nem contigo, nem sem ti». Ora, se houve um filme definitivo sobre tal pressuposto, chamou-se «A Mulher do Lado», porventura a melhor das últimas obras assinadas por François Truffaut antes de morrer.
Abordando o relacionamento entre Wictor e Zula durante quinze anos e em diversas cidades europeias, «Guerra Fria» repete os estereótipos ideológicos sobre a Polónia da era comunista (a corrupção da nomenklatura, a omnipresença da polícia política) ao mesmo tempo que enfatiza o pendor religioso do seu povo. A obsessão amorosa do casal é incompreensível ao fracassarem nas sucessivas tentativas para ajustarem a qualidade da relação impedindo que o ciúme, a tristeza, a ambição não se sobrepusessem ao desejo, ao enamoramento. Há deserções unilaterais, delações contrariadas, aventureirismos impensados, regressos insensatos e outras turbulências, que justificam a aposta no pacto suicida final, que pressupõe possibilidade de transferir para o Além a busca da felicidade, que a vida terrena não possibilita.
O maior interesse de «Guerra Fria» reside na primeira parte, quando reconstitui-se a tradição musical transmitida oralmente pelas sucessivas gerações e que o regime de procurou incentivar nos anos 50. Ao contrário do que acontece atualmente quando vemos o governo de extrema-direita a sujeitar a Cultura a tratos de polé. Mas essa é uma realidade, que Pawlkowski se tem eximido de denunciar, preferindo a comodidade dos filmes históricos, que dão às marionetas de Jaroslaw Kaczynski a caução para que prossigam impunemente os atentados às regras da democracia burguesa ao estilo ocidental.

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