quinta-feira, agosto 15, 2019

(DIM) «Se as montanhas se afastam» de Jia Zhang-Ke (2015)


É certo que Zhao Tao começa por ser fisionomicamente inverosímil como adolescente por quem suspiram Zhang e Liang. Mas se é a consorte do realizador, como estranhar essa opção, que se revelará progressivamente irrelevante por se tratar de excelente atriz capaz de dar substância a essa Tao cujos banhos de realidade sempre se revelam tardios quanto aos passos em falso nas suas opções.
«Se as Montanhas se afastam» divide-se em três partes, coincidentes com as três datas em que acompanhamos a evolução das personagens: em 1999 a China ainda não estava integrada no mundo globalizado e as tradições coexistiam com a entrada em força da cultura ocidental, sobretudo da música representada pelos «Pet Shop Boys» através do tema «Go West», dançado por Tao no início e no final do filme. Em 2014 os desencantamentos dos personagens - e a morte anunciada de Liang - coincidem com os do próprio país que vê os valores fundamentais secundarizados pela relevância do dinheiro. A terceira parte, passada em 2025. é unanimemente considerada a mais fraca, porque protagonizada pelo jovem Dollar, cuja espessura identitária é incoerente e inconsequente.
Apesar desse senão «Se as Montanhas se Afastam» é proposta cinematográfica, que dá prazer visitar e revisitar por nos confrontar com a inexorável passagem do tempo, a solidão e a refutação das nossas certezas
Quase sem darmos por isso o ecrã vai-se alargando na justa medida da globalização triunfante, mas constituindo sugestão enganadora, porque o universo dos personagens vai-se estreitando, condenando-os a claustrofóbicas ansiedades...

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