sábado, agosto 10, 2019

(AV) Stendhal, Pollock e Edward Hopper


O conceito de Beleza é muito discutível mas há quem o sinta emocionalmente de uma forma tão inexplicável, que quase não consegue explicar o êxtase de que se vê tomado. Stendhal procurou expressá-lo por palavras no roteiro da sua viagem por Itália dele se tendo dado conta perante a Basílica de Santa Croce em Florença. Por isso mesmo os psiquiatras passaram a designar esse estado de perturbação mental como decorrente do chamado Síndroma de Stendhal ou de Florença.
Se podemos admitir que os mais dados à mística, ou a uma certa estética, se encantem com um monumento, que apenas considerei interessante ao mesmo nível de muitos outros visitados em Itália ou noutras latitudes, não consta que tenha havido quem sentisse idêntica perturbação perante uma das enormes telas de Pollock borradas aleatoriamente nos quadros que deram expressão ao chamado estilo do expressionismo abstrato. Comparando as incensadas obras do cultor da ation painting  com as do seu menosprezado contemporâneo Edward Hopper, prefiro claramente as deste último. E, no entanto, foi Pollock quem a CIA andou a promover ativamente segundo os arquivos conhecidos da sua atividade, porque o abstracionismo funcionaria melhor na intelectualidade europeia do que o figurativismo do criador de «Nighthawks», que poderia ser conotado com o execrado realismo socialista soviético.
Se as manchas nas telas dos artistas ligados ao Expressionismo Abstrato podem sugerir reações relacionadas com o jogo de cores ou as formas vagamente geométricas, cada quadro de Hopper incita-nos a imaginar quem seriam as pessoas neles inseridas, ao que aspirariam, o que as inquietariam. E, nesse sentido, são bem mais desafiantes. Não bastam para suscitar êxtases, mas atiçam a nossa curiosidade.

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