domingo, agosto 18, 2019

(DL) Filhos de nazis


O avô de Tania Crasnianski foi aviador durante a Segunda Guerra e, a exemplo de muitos dos que se comprometeram com o nazismo, sempre calou as razões para tal empenho. Uma atitude muito comum nessa geração, que viria depois a ser confrontada pelos filhos e netos sobre as razões desse silêncio e, sobretudo, com a culpa por terem contribuído para a criação de um tal monstro. Isso aconteceu, sobretudo, nos anos sessenta, quando o conflito entre a juventude e os mais velhos ganhou pertinência similar à sucedida em França por essa mesma altura.
A autora passa ao lado dessa contestação para focalizar-se noutras vítimas do nazismo, quanto às quais pode sentir-se alguma ambivalência: com a derrota de 1945 muitas crianças que tinham sido mimadas pelos pais e vivido na opulência, sem que nada lhes faltasse, viram-se confrontadas, de um dia para o outro, com a mácula de serem apontadas como filhas dos principais dirigentes do regime. Os pais chamavam-se Hess, Frank, Bormann, Hoss, Speer ou Mengele e os tribunais condenaram-nos à morte ou a longas penas de prisão por os acusarem de «criminosos de guerra».
Os valores em que tinham sido educados viam-se virados do avesso, até mesmo diabolizados, e as jovens mentes não conseguiam entender as diferenças entre o certo e o errado, o bem e o mal, a verdade e a mentira. Muitos deles optaram por se fazerem anónimos, mudando de nome e forçando o esquecimento das origens. No dia-a-dia não lhes viria a ser fácil aceitarem a existência de uma herança genética, que correspondera a tão criminosa perversão dos mais básicos princípios humanistas. Mas houve também os apostados em desculpabilizar os progenitores, arranjando desculpas para o seu comprometimento e até cuidando da sua memória como se fossem heróis merecedores de contínua celebração. Foram estes que criaram ou colaboraram com diversos grupúsculos neonazis.
Em «Os Filhos dos Nazis» não existem primores literários. Tão-só a abordagem jornalística da forma como diversas pessoas lidaram com o facto de terem tido por pais os perpetradores de indesculpável genocídio.

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