Foi em Barcelona que Picasso sentiu que poderia ir muito para além do que julgava possível na exploração do talento artístico, que o pai desde cedo estimulara, ou não fosse pelo facto dele ter sido nomeado professor das Belas Artes da cidade, que o jovem Pablo chegou à capital catalã em 1895. Tinha treze anos e deparou com uma cidade transformada em estaleiro de obras de tantos edifícios marcados pela estética modernista, aparentada à arte nova, que lhe dava a sensação de se ver num laboratório onde todas as experiências eram admissíveis. A emancipação em relação ao espartilho do figurativismo classicista, que o pai representava, depressa se manifesta, afastando-se os quadros dessa época da imitação do que via para um estilo inovador, cada vez mais tendente para a abstração, que viria a consubstanciar-se no que é considerado o seu «período azul». Aquele em que fica convicto de cada quadro constituir um acaso, uma vivência, a oportunidade de inventar novas formas. O detonador desse salto em frente foi o suicídio de Carlos Casagemas, o amigo com quem contava partilhar o atelier ao mudar-se para Paris. Mas também o hábito de beber absinto ou de privilegiar o convívio com marginais, que substituem as paisagens como motivo principal da sua obra.
Pieds roses au bar (1902) confirma essa abordagem, cada vez mais próxima da abstração, ao representar duas prostitutas sentadas ao balcão de um bar e já com as mesmas manchas azuis, que sugerem a sífilis, também presentes no quadro mais conhecido deste período, As Meninas de Avignon (1907). Inspirado nas mulheres, que costumava conhecer no bordel da Carrer d’Avinyo, conhecem-se-lhe nove esboços preparatórios, onde ensaia a inserção de tudo quanto via nesse espaço. Mas a conclusão já ocorre em Montmartre, onde acabara por se instalar duradouramente.
A afirmação e consagração ocorreria em Paris, mas Barcelona ficaria para ele como o sítio onde crescera e diversificara as opções estéticas até alcançar aquela que viria a ser a genuinamente sua.
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