quinta-feira, fevereiro 04, 2021

(DIM) Frances Ha, Noah Baumbach, 2012

 

É certo que alguma crítica francesa desconchavou o filme, como se fosse coisa pouca e insuportável. Talvez por ter um cheirinho a nouvelle vague e, na sua xenófoba pulsão, os autores dessas diatribes considerassem de lesa-majestade a tentação da dupla Baumbach-Gerwig em socorrer-se de tão óbvia influência. A verdade é ser tão difícil não gostar do filme na forma como lembra um Woody Allen dos bons velhos tempos em versão mais aveludada. Da mesma forma que sentimos o mesmo por Nova Iorque, mesmo sabendo que o resto da América nada tem a ver com a cidade sempre acordada para tantos e tão variados estímulos artísticos.

Frances Ha é um filme sobre as dores de crescimento de uma geração, que gostaria de conservar a magia da infância - e é inevitável pressenti-la na forma como a banda sonora acompanha todos os passos dados pela protagonista na passagem do Natal com a família em Sacramento! - mas depara com todas as dificuldades inerentes à idade adulta. As deceções que Sophie manifesta ao ligar-se conjugalmente a um financeiro da Goldman Sachs, as dificuldades em estabelecer relações afetivas fortes, quando os potenciais parceiros parecem mais apostados em despachar de enfiada todas as interessadas em lhes conhecerem o quarto ou, sobretudo, a impossibilidade de encontrar sustento que não seja numa ininterrupta sucessão de empregos precários.

A vida adulta não se compadece com os sonhos alimentados numa adolescência em que tudo se julgou possível. E a dupla Baumbach-Gerwig filma tudo isso a preto-e-branco com uma Canon disponível para não profissionais, o que lhes permitiu uma tão grande flexibilidade nos enquadramentos e movimentos de câmara como a criação de uma espécie de work in progress feito de muitas takes até chegarem aos resultados pretendidos sem para tal investirem num grande orçamento.

Será filme para facilmente esquecer como muitos quantos se estreiam no circuito alternativo de filmes indie? Provavelmente! Mas que se passam noventa minutos agradáveis a acompanhar as quimeras frustradas de uma rapariga de 27 anos, que sabe estar num momento de viragem para um futuro onde se sinta menos perdida, é algo que dele provavelmente recordaremos!

 

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