terça-feira, fevereiro 09, 2021

(DIM) Uma década a ganhar tarimba

 

Se antes de A Grande Jornada (The Big Trail, 1930), o ainda Marion Morrison já aparecera como figurante nalguns filmes mudos - o polícia numa rua a vigiar quem passava, um espectador entusiasmado de uma corrida ou o radiotelegrafista  a bordo de um navio - nenhum outro título por ele protagonizado merece referência de entre as dezenas, que rodou na década de 30 até John Ford o contratar para A Cavalgada Heroica (1939). Todos eles eram de série B, rodados à pressa, numa sucessão de filmagens, que repetiam invariavelmente os mesmos temas.  Quase todos enquadrados nos muito rentáveis westerns. Numa América em busca da identidade, a conquista do Oeste e os valores de bem e de mal a ela conotáveis, contribuíam para as plateias consolidarem o imaginário coletivo de uma nação branca, coerente nos valores e conceitos da lei.

Para John Wayne a época não deixa de ser produtiva por duas razões principais: permitiu-lhe sustentar a família sem o inquietarem as dificuldades da Grande Depressão, e, sobretudo, foi ganhando a tarimba suficiente para exprimir no rosto uma crescente paleta de emoções. Se nunca frequentou uma escola para atores - na Universidade andara no curso de Direito e notabilizara-se no desperto - os estúdios de cinema e esses filmes pouco ambiciosos providenciaram-lhe as competências de que carecia à partida.

A ascensão ao patamar dos grandes atores de Hollywood aconteceu no sempre nunca por demais incensado ano de 1939. Ao deixar-se de rancores por tê-lo visto contratado por Walsh para a epopeia de 1930, Ford cumpriu a expetativa alimentada dez anos antes em como o antigo acessorista do estúdio daria um ator carismático, capaz de vir a funcionar como seu alter ego em tantos filmes das duas décadas seguintes.

Sempre carecido de um pai protetor, Wayne reencontraria em Ford o tal Papy, que lhe guiaria os passos e o converteria naquilo em que ascenderia à condição de mito. Mesmo considerando quão diferente era essa imagem de personagem forte, muito seguro de si, com a fragilidade que tentaria esconder o mais possível dos outros.

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